terça-feira, dezembro 27, 2005

E, por fim, o fim

Viagem. Riso. Retornos. E a subsequente fuga. Mentiras deslavadas contadas e mal acreditadas. Explicações que não convencem. Escritos, não tão bons assim. Muita linha perdida no baile, muito mé. Palavras que me vêm aos olhos. Crise existencial braba. Idas sem adeus. Feiúria. Auxílio. Mais algumas viagens, alguns shows. Detalhes que agora me escapam. E, por fim, o fim.

quinta-feira, outubro 06, 2005

O Tempo, Esta Grandeza Relativa.

Hoje é um dia em que tenho a liberdade de acordar um pouco mais tarde. Tomando café, vasculho o "G" de Gazeta. Com saudosismo, olho a programação musical da cidade. Tudo mudou. Aquela grade que eu sabia de "cor" ano passado já não existe mais. Hoje seria dia de Korova, ontem teria sido Pelebroi com Feichecleres. Não tem mais esta seqüência.
Outras coisas mudaram. Os amigos de áureas aventuras, ou sumiram, ou o evitam. O que não faz um pouco mais de juízo e cabelos brancos na cabeça.
O trabalho aumentou exponencialmente. Até que temos tempo, mas faltam força e disposição para ir ver um construtivo show de bandinha. Meu blog está desatualizado faz mais de mês, falta tempo e cabeça com alguns neurônios descansados e inspirados que façam por merecer algo ser escrito lá.
As idéias e o espírito continuam. Um bom teste para constatar esta verdade (será?) vão ser as férias.

Esta foi minha última contribuição neste espaço. Agradeço a todos os amigos e amigas que tiveram paciência em ler estas elocubrações.

Um abraço e fiquem com Deus.

quarta-feira, outubro 05, 2005

VocÊ Bem OU I guess I thought you had the flavour

Nossa relação me fez muito bem por todo esse tempo, mas já não acho que ela esteja funcionando. Faz mais de duas semanas desde que a gente se viu e eu teria que estar muito cega pra acreditar que tudo está bem. E não está bem. Eu não estou bem. E já não tenho mais estrutura pro “não sei”. Eu não sei o que você quer de mim, ou até mesmo se você quer alguma coisa. Já não me importei com o fato de que quando nos encontramos em bares agimos como conhecidos, mas hoje isso me incomoda. Já não tenho mais estrutura pra isso também. Não tenho. Eu preciso de atenção e não sei se você pode ou quer me dar isso. E poderia não ter me atingido você não me responder. Poderia não ter ligado para o seu recado não mais que seco. Mas a questão é que liguei. Eu não estou bem. Não posso mais ter o “não sei”. Não posso. Poderia ter deixado isso sumir no ar, como você pelo jeito queria. Mas não consegui. Preciso saber que acabou. E de fato acabou, eu sei. Mas não se pode fugir dos problemas. Não é tão simples como bloqueio no msn. Nunca cobrei nada de você (erro?), mas agora te cobro uma coisa: sinceridade. Você me disse que ainda era criança. Eu devia ter acreditado...

segunda-feira, setembro 26, 2005

Poesia Pós Moderna Olindense.

A Lua Vem Surgindo

Redonda Como Um Caju

Se você gosta de mim

Então Por Que Roubou Minha Bicicleta?

(Anônimo)

quinta-feira, setembro 22, 2005

Deixar

Chega! É hora. Quando é que vai embora? Quando é que vai passar? Já está por perto tempo demais. Tudo tem hora certa, e a sua é agora. Quer dizer, já passou. Então trate de levantar e ir. Me deixe em paz. Me deixe respirar. Me deixe querer viver.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Será?

Será que já estou muito velha pra gritar: manhê, resolve pra mim?

domingo, setembro 11, 2005

Instead I choose vodka...and Chaka Kahn* (tá, Chaka Kahn também não...)

Quem é que foi inventar que álcool cura dor de cotovelo? Quem? Quem é que disse que resolve alguma coisa? Ainda se se pudesse expulsar o bastardo junto quando se passa mal... Mas não. Só te sobram dedos amortecidos, pernas moles e uma puta dor de cabeça. Babaca. Quer dizer, babacas. Você e ele. Você por ter acreditado. E depois bebido. E ele, bem, ele por ser o babaca que é.


*Do filme "O diário de Bridget Jones".

quinta-feira, setembro 08, 2005

Alta fidelidade e geração pop

Acho que talvez Nick queira dizer que a geração pop nunca está satisfeita com nada. Acho que talvez a influência pop tenha sido tamanha, que, mesmo encontrando alguma coisa, insistimos em cantar que ainda não encontramos o que procurávamos. Acho que talvez o íntimo pop tenha um quê platônico insuportável. Acho que talvez, então, Nick esteja certo. Acho que talvez a geração pop seja aquela que, ao viajar, pede para alguém que largue tudo para ir junto, enquanto outrem está na porta, de malas prontas, esperando. Ou, talvez, eu seja anacrônica, ou esteja lendo Foucault demais.

segunda-feira, agosto 22, 2005

Reflexão do Nick - HIGH FIDELITY

É um grande absurdo. Pessoas preocupadas com as crianças que brincam com armas. Pessoas preocupadas com os adolescentes que assistem a vídeos violentos. Gente acreditando que algum tipo de cultura da violência vai ferrar com a sociabilidade das próximas gerações. Ninguém lamenta o fato de que se ouve toneladas de músicas falando sobre corações partidos, rejeição, dor, miséria e perda. Os mais infelizes, em termos de relacionamentos afetivos, são aqueles que ouvem música pop.

Uma doce lembrança: "Last night I dreamt that somebody loved me" - Strangeways, here we come - Smiths

"Last night I dreamt
that somebody loved me
no hope - but no harm
just another false alarm
Last night I felt
real arms around me
no hope - no harm
just another false alarm
so, tell me how long
before the last one?
and tell me how long
before the right one?
this story is old - I KNOW
but it goes on
this story is old - I KNOW
but it goes on"

P.S.: Ouço Smiths e não consigo concordar com o Nick, embora compreenda o seu argumento.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Simples assim

Não queria ninguém do meu lado, não queria que nada fosse diferente, só queria chorar. Queria te perguntar e que você me respondesse que não quer. E então te daria meu choro contido e te mostraria o que me importa. Se ao menos pudesse me convencer de minha interpretação não mais que ilógica! Um dia não consegui chorar, hoje já não posso parar, pois a pior solidão é aquela sentida na presença do outro.

quinta-feira, agosto 11, 2005

Para além da controvérsia entre público e privado.

Outrora público, o órgão funciona maravilhosamente bem após um rápido e eficiente processo de privatização. É verdade que a sua orientação sempre foi coletivista, posto que de origem genuinamente socialista. No entanto, adaptou-se bem – muitíssimo bem – à lógica do mercado, com sua ideologia expansionista. Os méritos devem ser atribuídos à entidade gestora, dona de curvas superlativas, predicados humanistas e vocação sem paralelo. Carnalmente identificada com o que faz, regozija-se de prazer ao sentir o órgão em seu estado de crescimento constante. Finalmente, por ser comprometida com questões relacionadas à preservação, tomou todos os cuidados necessários para que tal crescimento mantenha-se sempre sustentável. Fico feliz por ter a possibilidade de testemunhar este inegável caso de relacionamento bem sucedido.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Crise crônica insolúvel. Ou não. (como diria Caetano)

Querer explodir. Ficar na cama por horas, de maneira insípida. Sentir fome e ao mesmo tempo desejar não comer nada. Ser indiferente à própria aparência. Querer fazer e não achar fôlego, tampouco força. Lutar com a realidade. Esforçar-se para acordar. Sentir-se cansada depois de doze horas de sono. Querer escutar Bon Jovi. (Acredita?) Estar com tudo e achar que está sem nada. Ter a sensação de que nada faz sentido. Pensar que você pode ter perdido a graça. Dar risada e chorar em compassos de meio minuto. Desejar gritar quando de sua boca só saem grunhidos. Não entender bulhufas do que se passa com você mesmo. Normal. De repente, tomar sorvete. De chocolate. Com muita farofa de castanha de caju, leite condensado e tubetes. A cura de uma TPM é tão misteriosa quanto a própria existência.

quinta-feira, agosto 04, 2005

A tela

Partia, mas gostaria que a ida se desse com sua tela em branco, sem ele. Logo percebeu a bobagem que pensara, não havia um só lugar que quisesse que ele estivesse, a não ser pintado, ali, onde estava. Desejava não desejar partir, sua doce tristeza, que lhe apunhalava no estômago. Mas amanhã e o quadro já embranquecia. Ele ficava cada vez mais longe. Mas a distância aliava-se à lembrança. E à dor. E doía. Doía-lhe muito deixá-lo.

quarta-feira, julho 20, 2005

Para o destino

Gostaria de poder escapar de ti. Gostaria de resolver meus problemas em uma mesa de tarô. Gostaria sim. Acreditaria? Acreditaria que não fui eu quem escolhi? Gostar de quem mora longe. Gostar de quem não me quer. Não procurar elogios. Não querer nem a mim. Sim, o tarô! Salvação da vida minha! Não pisar em ovos. Não chorar sozinha. Não sair escondido. Sem mais conversas triviais, quase que por obrigação, nem sentimentos pelos olhos. Preveniria, faria, pararia. Se ao menos pudesse acreditar em você.

segunda-feira, julho 11, 2005

A Rapidinha Também Tem O Seu Valor?

Volto a um ponto que já comentei aqui, acho que na minha primeira contribuição.
Saímos ontem à noite, eu e a Doutora, para comer um "Ultimate Nachos" regado a cerveja. Lugarzinho pop, azaração, casais, etc.
O Flávio Gikovate adora comentar que os jovens deram uma contribuição relevante aos relacionamentos, o "ficar com". Para que já usufruiu disto, não vou cuspir no prato que comi. Mas para mim isto foi a inauguração de um novo tipo de relaciomanento: a Relação Pop. Consumível, descartável, não necessariamente memorável. Pode-se argumentar que estamos fazendo um "test drive" de caráter sentimental e tátil, mas na conta das evoluções, precisamos debitar mais uma. Meninas, vocês não sabem como era gostoso ter que "pedir em namoro" e esperar um, dois ou três dias pela resposta. Nos corredores da escola, encostávamos as melhores amigas na parede, "e aí, ela comentou algo com você? Tenho chances?". Fetiche de coroa, talvez. Mas na minha época já rolava a ficada, mas quando era de ficar, só não rolava namoro se algumas das partes fossem muito toscas.
Isto "evoluiu" ao realmente pop. Efêmero, breve, oco, vazio, portanto, sem sentido. Grande parte dos casais ontem ali presentes estavam na espreita. Tipo: meu carro hoje é um Fiesta. É bom, atende as minhas necessidades. Mas sabe como é... Eu mereceria mais não? Estou juntando uma grana, na batalha... numa dessas eu embarco em um Astra. Depois, visulumbro um Pajero, por aí vai.
Casalzinho padrão Crystal Plaza ao lado. Rapaz fortão. Boné. Von Dutch, claro. Namoradinha (ficante?) a tiracolo. Loira, claro. Não totalmente. Ops, não fiquei tão íntimo da moça, mas algumas raízes escuras despontavam. Malhada, sarada e, o mais importante, com aquela carinha "tá bom, mas nada me satisfaz". Olha ao lado. Estou aqui. Se estou acompanhado, então para ela vale a pena a olhada. Dá uma "escaneada":
-Celular Visível? Qual marca?
-Tênis? Da moda? Qual?

E, claro, o mais importante:
-Chaveiro do carro? Cadê????

Dá uma geral, nada que valha a pena a troca. Subitamente ela deixa de olhar-me, já emborca na direção de outro casal, que estava em uma mesa na diagonal entre nós. Tive dó do rapaz que a acompanhava, era gentil, solícito, cumprindo os canônes: puxou a cadeira pra ela, chamou o garçon adequadamente, essas coisas.
Aquilo não era uma ficada, já chegaram juntos de mãos dadas. Se ficou e gostou, assuma. Vista a camisa. Pessoas não são marcas, não são descartáveis. Cada um de nós tem uma beleza única. Se a ficada valeu, viva a beleza e não a traia. Seja honesta, se não te apetece mais, saia. Mas nada de ficar procurando uma grama e, ao achá-la ficar pensando se a do vizinho vale a pena a pisada.

domingo, julho 10, 2005

Sim, eu sei que este blog tem cinco pessoas...

Não estou com vontade de escrever. Verbo estar, não o ter. Pensei em tapar o buraco de sei lá quantos dias com posts passados, mas nada do que escrevi até hoje pareceu me representar. As idéias soltas, não encontram lugar e vagam perdidas. Quando as encontrar, aviso.

sexta-feira, junho 24, 2005

Não, não, não OU Spoiled Rotten

Não, não, não. Não pode fazer isso, não. Só eu posso. Eu. Você não. E não interessa que já não se possa mais contar nos dedos as vezes que te fiz. Não interessa mesmo. Você não pode. Esta é pregorrativa minha. Exclusiva. Não sua, minha. Desfaça! E rapidinho. Agora mesmo. Neste instante. E não volte mais a fazer. E aprenda que só eu posso. Só eu. Eu.

terça-feira, junho 21, 2005

Solidão que nada

Sabia que aquela melação toda era a praxe do início apaixonado. Começou até a curtir os apelidos no diminutivo, as brincadeirinhas sem-graça, a vozinha de criança, as manhas, as chantagens, a linguagem retrógrada do tempo em que tudo o que se falava eram sílabas duplicadas. Momô, bibi, xaxá, fufu, mimi, naná, pipi, totó, e por aí ia. Fazia questão de repetir todo aquele interlóquio enquanto contava e ouvia como o dia tinha ido. Quando ficava finalmente sozinha, suspirava. Sentia um misto de alívio e angústia. Sabia que o costume era responsável por este último. Sabia que, inexoravelmente, algum dia, em qualquer lugar, em uma hora incerta, tudo iria acabar. E começar de novo.

terça-feira, junho 07, 2005

Rabiscos de um cenoura brutalmente apaixonado ...

Sonhava em ter braços maiores. A paixão difusa pela vida trazia o desejo de abraçar muitas coisas ao mesmo tempo. Assim, carregava sempre um descompasso gritante entre o desejado e o possuído. Nada bastava, nada satisfazia. Aquilo que parecia intensidade não passava de movimento frenético: fuga. E a fuga trazia consigo a confissão de esperança. Como esperou! Agora escreve sobre o descompasso e a fuga usando os verbos no passado. Vive o encontro com o absoluto no abraço mais singelo, abraço para o qual os seus braços foram feitos.

domingo, junho 05, 2005

Desviante

Não vou olhar. Desvio o meu olhar. Vou me enganar. Só mais um pouquinho. Só por mais um tempo. Depois eu paro. Afinal, que mal tem a irrealidade? Tão mais confortável. Mas depois eu paro. Paro sim. Eu consigo. Paro quando eu quero. Nossa. Já pareço uma viciada. Não, não. Já disse que já olho pra frente. Se bem que... quem sabe, se eu esperar só mais um tantinho as coisas não se resolvam? Vai que ele se endireita, nunca se sabe. O marido da vizinha da amiga da minha prima era assim, que nem ele. Hoje é um santo! As pessoas mudam. Mudam, sim! "E se não mudar?", dizem elas. Bem, acredito que seja melhor que uma cama vazia e fria. Ou que a companhia de 62 gatos. "Você acha outro". Afirmação padrão. Lugar-comum. Mas vocês não devem se preocupar comigo. Já disse que vou parar de olhar pro lado, que largo dele. Meu olhar já já não vai mais se desviar. Eu consigo ficar sozinha, consigo sim. Só mais um pouco e eu....

terça-feira, maio 31, 2005

Amor desses de cinema

O de sempre. Acordou com um mau-humor desgraçado. Monossilábica. De quebra, aquele sono irritante. Claro, assim que pôs os pés na rua, um casal passeava de mãos dadas pela calçada. Daqueles felizes para sempre. Que coisa idiota! Direto para o ponto de ônibus. Não deu outra. Outros dois se beijando. Tentou não olhar. Entrou na lotação. Pagou a tarifa, entediada. Sentou-se. Estava querendo prestar atenção em nada. Olhar os lugares passando pela janela. Distraída, olhava para um canto. Notou alguns pés. Quatro, em particular. Que droga, não se separam! Levantou o olhar. Adivinha? Mais um par de pombinhos. Daqueles de propaganda de creme dental. Quis soltar um grito, mas, a essa altura, ou gritava ou descia. Desceu. Foi caminhando. Tropeçou um pouco. Resmungou. Xingou. Entrou em um prédio. Enquanto aguardava parada, pensava consigo. Amor, desses de cinema, só mesmo em contos da Carochinha. Entrou no elevador. Mal sabia ela que esse tal amor de cinema existia sim. Bem ali, ou aqui, sabe-se lá. Seu maior inimigo, no entanto, ela mesma. E amor existe para quem quer que diga não estar apaixonado?

quarta-feira, maio 25, 2005

O mundialmente famoso tapa buraco OU AINDA músicas que falam por mim

"These bonds are shackle free
Wrapped in lust and lunacy
Tiny touch of jealousy
These bonds are shackle free"

Placebo - Ask for answers


"Esses laços estão livres de amarras
Revestidos de luxúria e loucura
Pequeno toque de ciúmes
Esses laços estão livres de amarras"

segunda-feira, maio 16, 2005

Adaptação

"A vida é curta. Eu preciso aproveitá-la ao máximo. Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida. Eu sou um clichê ambulante. (...) Se eu parasse de deixar as coisas para depois eu seria mais feliz. Tudo o que eu faço é sentar sobre a minha bunda gorda. Se a minha bunda não fosse tão gorda, eu seria mais feliz. Eu não teria que usar essas camisetas com a ponta para fora todo o tempo. Como se aquilo enganasse alguém. Bunda gorda. Eu deveria começar a correr novamente. Cinco milhas por dia. Realmente fazê-lo dessa vez. Talvez escalada. Eu preciso mudar completamente a minha vida. O que eu preciso fazer? Eu preciso me apaixonar. Eu preciso ter um relacionamento. Eu preciso ler mais e provar a mim mesma. E se eu aprendesse a falar Russo ou começasse a tocar um instrumento? Eu poderia falar Chinês. (...) Por que eu deveria sentir que eu tenho que me desculpar pela minha existência? Talvez seja a química do meu cérebro. Talvez seja isso o que eu tenho de errado. Química ruim. Todos os meus problemas e ansiedade podem ser reduzidos para um desequilíbrio químico ou algum tipo de sinapses falhas."*

Não sou nenhuma mulher problema, espero. Talvez seja. Não escrevo odes à TPM, apenas esta afeta meus escritos. Tenho relacionamentos pós modernos. Será que estou perdida? Se estivesse, talvez escrevesse um ode à TPM. E isto não é um ode à TPM. Isto é apenas o que eu sinto. Agora. Não o que senti há dez minutos. Não o que sentirei amanhã. Talvez. Mas por enquanto, por hora. Sentimentos esboçados por outro, traduzidos por personagem de filme. Adaptados. Isto são apenas reflexões. Reflexões para o Cebola Roxa. Não sou a _Me_. Ela é apenas a minha manifesta parte bipolar, paranóica e tepeêmica.

* Fala da personagem Charlie Kaufman, no filme "Adaptação".

quinta-feira, maio 12, 2005

Bom Mesmo é Sofrer(? ou .)

Amor que é amor tem que doer. Tem que ser sofrido. Tem que jogar o coração boca à fora. Tem que dar gastrite, ansiedade, esquizofrenia. Se for verdadeiro, no começo é assim. Depois, para se justificar, tem que dar paz, tranquilidade, satisfação, tesão, paixão.
Gosto de citar Bossa Nova quando falo de amor. Podem conferir meu post em 03/12/04 no Notícias do Balneário, "Samba de Primeira Classe" (vão lá ver o jabá: http://noticiasdobalneario.blogspot.com). Novamente, concordo com o Maestro:

Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é saber
que ninguém pode viver de ilusão
Que nunca vai ser, nunca vai dar
Num sonhador, tem que acordar
Sua beleza é um avião
Demais pra um pobre coração
Que pára pra te ver passar
Só pra me maltratar
Triste é viver na solidão
Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é saber
que ninguém pode viver de ilusão
Que nunca vai ser, nunca vai dar
Num sonhador, tem que acordar
Sua beleza é um avião
Demais pra um pobre coração
Que pára pra te ver passar
Só pra me maltratar
Triste é viver na solidão
Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é saber
que ninguém pode viver de ilusão
Que nunca vai ser, nunca vai dar
Num sonhador, tem que acordar
Sua beleza é um avião
Demais pra um pobre coração
Que pára pra te ver passar
Só pra me maltratar
Triste é viver na solidão.

Estou numa fase de minha vida em que encaro o amor de forma diferente. Gosto do companheirismo. Daquele esfregar de meias ao amanhecer numa manhã de inverno. Do café mal passado e compartilhado, às pressas, de manhã cedinho. Daquele porre homérico a dois, dançando no aperto do Korova. Daquele "cinema transcedental", no Cinemark (abaixo os braços de cadeiras em cinema!), seguido de uma cerveja com discussão sobre o tema no Dom Max. Em seguida, esticamos no James e tomamos café da manhã no Fran´s, ou qualquer padaria não respeitável que se apresente. Nós, homens, somos acostumados a fazer estas esticadas de 3, 4 programas em uma noite só. É massa. Quando rola um "Retroceder Nunca, Render-se Jamais", é o bicho. Fazer tudo isso ao lado da cara metade é melhor ainda.

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem pra seguir viagem
Quando a noite vem

E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega, mas não lava
Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo te alucina, salta e te ilumina
Quando a noite vem

E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço
Quero pesar feito cruz nas tuas costas
Que te retalha em postas mas no fundo gostas
Quando a noite vem

Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, a ferro e fogo
Em carne viva
Corações de mães, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sente...

Quem escreve acima é o Chico. Talvez Chico seja o único homem que entedeu o verdadeiro sentido do amor do ponto de vista feminino. É ele, e apenas ele, quem canta desventuras amorosas de uma maneira tão feminina, que dá vontade de passar conversa até na Maria Bethânia, quando ela o canta.
Nos últimos 10 a 15 anos, foi o ápice da "mulher problema". Odes ao TPM e à independência feminina! Passou a ser charmoso a desconfiança, o egocentrismo, o consumismo. Esteticamente, enebriaram-se em penduricalhos e roupas que as deformam. Acho que passou-se uns 10 anos admirando uma beleza durante à noite para acordar ao lado de outra pela manhã. Só que esta, ao contrário do saber comum, era mais bela do que a noturna. No comportamento, virou "cool" mimetizar o "cool".
Depois de muito tempo, ninguém mais aguenta este tipo de mulher. Surgiu a nova mulher. Companheira, amiga, naturalmente linda.
Por um tempo, confundimos sofrimento de amor com mau humor e outros sentimentos pedantes. O fato de não ter retornada uma ligação, não significava aquela dúvida, aquele anseio generoso. Significava insegurança, má educação, desleixo.
Amor que é amor, machuca, mas cuida da alma. Viva à alvorada da Nova Mulher. Seleção Natural. Adapte-se, ou suma.

Alvorada
Lá no morro, que beleza
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo
É tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo
Tingindo, tingindo

Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando
Meus caminhos tão sem vida
Mas o que me resta
É bem pouco, quase nada
Do que ir assim vagando
Numa estrada perdida.

(Carlos Cachaça/Cartola).

quarta-feira, maio 11, 2005

Dito de outra forma

A aventura é irresistível. O seu canto é convincente – muitas coisas absurdas parecem convincentes quando se vive a aventura, quando se ouve o seu canto. A aventura é intensa. Intensidade é algo que se deseja. É por isso que tentamos constantemente transportar a lógica da aventura para o futuro: “sim, é para sempre”. É fácil pensar no “sempre” através da intensidade do presente. É ainda mais fácil cair na tentação de aprisionar o futuro através da sinceridade do presente. Nunca houve amante mais sincero e intenso do que Casanova. Olhar para o futuro e admitir a incerteza é difícil. Admitir que o encanto da aventura só faz sentido no presente pode ser insuportável. Aceitar o desafio de renovar o encanto da aventura a cada dia ... isto é dádiva.

terça-feira, maio 10, 2005

Sobre relacionamentos pós-modernos

Você olha, você deseja. Quer. Não quer. Quer, sim. Beija. Beijo este que, de preferência, dure "felizes para sempre". Ou não. Fica junto. Gruda mesmo. Ama muito. Ou pouco. Apaixonadamente. Aí começam as promessas. Prometa daí que eu prometo daqui. Para sempre. Para nunca. Tudo e nada, quando o nada é alguma coisa. Quer até o último dia. E o que significa último dia quando se trata do volúvel e iludível coração humano? Boa pergunta.

quinta-feira, maio 05, 2005

Generation Gap

- Mãe, tô saindo.
- Onde você vai?
- No cinema.
- Com quem?
- Com Victor Manuel Cortéz*
- Quem é esse, Melina Angélica*?
- Um cara com quem estou saindo.
- E ele faz o que?
- Ele é baterista de uma banda.
- Ai minha filha, será que dessa vez você não poderia ter arranjado alguém, assim... normal?

Baseado em fatos reais...
* Os nomes foram modificados para proteger os não tão inocentes

terça-feira, abril 26, 2005

Longe Demais: "Closer."

Duvido que vocês todas saibam da história do Leoni. Maldito Google, dei a dica, lá vão elas pesquisar. Sejam preguiçosas e leiam por aqui mesmo.
Leoni era marido (amancebado) da Paula Toller. Junto com outros, fundaram o Kid Abelha e Os Abóboras Selvagens na virada de 1982 para 83. Áureos tempos do Circo Voador, no Rio. O conjunto fez sucesso, está até hoje na estrada. Contudo, teve seu ápice ao redor do Rock in Rio de 85. A expectativa era grande, a banda e os integrantes novos, iriam tocar antes de feras consagradas e de um público enorme e exigente. Contudo, aquelas baladas bobinhas, juvenis, temperadas com a boa presença de palco da trupe, deram conta do recado. O show foi um sucesso. Não estou falando das últimas músicas do conjunto (todas absolutamente descartáveis), mas de clássicos de minha geração como "Por que não eu?"; "Alice (não escreva aquela carta)"; "Fixação"; "Como eu quero", dentre outras. O que todas estas músicas têm em comum? Leoni! Leoni é o cara!
No meio de músicas de protesto do pessoal do Planalto Central (Que País é Este? ; Até Quando Esperar; O Concreto Já Rachou), da viajante Geração Dourada do Rio (Garota Dourada; Adão e Eva no Paraíso), o Kid Abelha se destacava por músicas românticas e pegajosas. Mal comparando, tipo um Roxette. Só que melhor que o Roxette. As letras do Leoni vão direto no coração, se você estiver na fossa (ou TPM...) não tem Prozac que te quebre o galho. Leoni sempre questionava, na voz inquisitória de Paula Toller, por que o amor nunca funcionava com ele.

"Eu tenho o gesto exato, sei como devo andar
Aprendi nos filmes pra um dia usar
Um certo ar cruel de quem sabe o que quer
Tenho tudo planejado pra te impressionar

Luz de fim de tarde, meu rosto em contra-luz
Não posso compreender, não faz nenhum efeito
A minha aparição será que errei na mão
As coisas são mais fáceis na televisão

Ainda encontro a fórmula do amor... "

Afundado ainda mais em mágoas e questionamentos, ele extrapola:

"Quando ela cai no sofá, so far away
Vinho à bessa na cabeça, eu que sei
Quando ela insiste em beijar seu travesseiro eu me viro doavesso
Eu vou dizer aquelas coisas, mas na hora esqueço
Por que não eu ?
Por que não eu ?"

De fato, as mulheres pensam diferente dos homens. Leoni percebe isto e descreve de maneira sublime:

"Diz pra ficar muda faz cara de mistério
Tira essa bermuda que eu quero você sério
Tramas de sucesso mundo particular
Solos de guitarra não vão me conquistar

Hum! Eu quero você como eu quero...

O que você precisa é de um retoque total
Vou transformar o seu rascunho em arte final
Agora não tem jeito "cê" tá numa cilada
Cada um por si você por mim e mais nada"

Pronto Leoni, agora que ela te deu retoque total, qual o seu problema?

"Tantos sonhos morrem em poucas palavras.
Um bilhete curto... já não há nada.
Alice não se esqueça do nosso amor.
Será que eu tenho sempre que te lembrar.
Todo dia, toda hora?
Eu te imploro por favor!

Alice não me escreva aquela carta... de amor, oh, oh, oh
Alice não me escreva aquela carta... "

E Leoni recebeu a carta. Paula Toller ouviu os apelos de Hebert Viana em "Vamos fugir". Daí Leoni virou mito. Cantou todas as inseguranças e medos de nós, rapazes adolescentes, e viveu o maior de todos: o indelével pé na bunda. Virou herói. Herói da Resistência:

" Não vem agora com essas insinuações
Dos seus defeitos ou de algum medo normal
Será que você não é nada que eu penso?
Também se não for não me faz mal
Não me faz mal não
Noite e dia se completam no nosso amor e ódio eterno
Eu te imagino
Eu te conserto
Eu faço a cena que eu quiser
Eu tiro a roupa pra você
Minha maior ficção de amor
E eu te recriei só pro meu prazer
Só pro meu prazer..."

No fundo, todos nós procuramos o grande amor. Vez por outra, tropeçamos com ele pela vida. De tanto penar, nós, almas surradas e calejadas, custamos aceitar porque alguém nos estende a mão para uma mísera felicidade. Daí vem a pergunta feita por Jude Law em Closer: "Por que eu?".
Leoni é o cara.

terça-feira, abril 19, 2005

Sobre a ausência

Ausência.
De ânimo. De tempo. Do outro.
Ausência.
De sentimento. De estranhamento. De ciúme.
Ausência.
De decepção. De paixão. De perda de controle.
Ausência... Estou ausente.

quarta-feira, abril 13, 2005

TPM de apaixonada

É fiel. Será? Seria? Não importa. Importa sim. Sabe o quê? Cansei. Não amo mais. É carinhoso. Um dia. Quase sempre. É mesmo? Não é. Ainda estou carente. Tô fora. Nada disso. Isso. Fui. É lindo. Estão olhando? Quem é aquela? Saiu com ela? Não quero saber. Ou quero? Conta, vai. É mentira. Vou embora. É músico. Podia ser coisa melhor. Sociólogo, quem sabe. Papo-cabeça é afrodisíaco? Está mais pra fonte de mal-entendidos. Sério? Não. Me arrepio toda com citações de Foucault. Se bem que não tem nada melhor que Los Hermanos cantarolado ao pé da orelha...

domingo, abril 10, 2005

Próxima atração na HBO: Melina Tpêmica

Era cansada, cansei, cansaço. Mas mais poderia ser, chorosa, chorei, choro. Passei o dia inteiro chorando. Sim eu sou uma mulherzinha. Pior! Mulherzinha em crise de TPM aguda. Meu cabelo estava oleoso, buá. Fui no médico e não tinha nada de errado com as minhas amídalas, buá buá. Também chorei porque o Bruce Willis resgatava refugiados africanos e metade dos seus homens morria na missão. "Não deixe que a minha morte seja em vão! Salve os refugi-cof cof-ados" e plof, morria. E eu chorava. Daí em outro filme era a vez de uma velhinha ir pro beleléu. Choradeira. Tá, vou mudar de canal. O príncipe Charles e a Camilla se casaram, ou como dizia na cobertura da TV espanhola, Carlos e Camila. Snif, snif. Coitados! Tiveram que esperar tanto tempo. O que? 35 anos? Mas também, com esse penacho horrível na cabeça... E lá eu com a Camila e o Carlos? Ah não! Agora foi o irmão do marido da velhinha que morreeeeeeu! Melhor assistir o DVD que eu peguei, Antes do Pôr do Sol. Não que eu esperasse que fosse muito feliz, talvez quisesse, inconscientemente chorar mais. E chorei. Muito mais. Primeiro porque o Jesse e a Celine se reencontraram depois de 9 anos. Depois porque ela chorou. De repente estava chorando e nem sabia mais o motivo, chorava por chorar. Talvez o choro fosse pelo fato de que eu me sentia mau amada. Sozinha. Talvez fosse pelo fato de que eu provavelmente nunca seria “aquela que escapou” de ninguém. Nem nunca ficaria casada por 57 anos. Nunca seria a pessoa mais importante na vida de ninguém. Seria uma daquelas velhas loucas, solteiras, que nunca casou e que agora vive somente na companhia de 62 gatos. Claro que esqueci que odeio gatos, ainda mais 62. E claro que era melodrama, daqueles bem baratos.

"The concept is absurd. The idea that we can only be complete with another person is evil! Right?" (Celine, em Antes do Pôr do Sol)
"O conceito é absurdo. A idéia de que somente podemos ser completos com outra pessoa é má. Certo?"

quarta-feira, abril 06, 2005

Untitled

Cansada. Cansei. Cansaço. Não sei do quê, de quem, nem perguntarei por que. Cansei de querer o que não sei. Cansei. Cansei de escrever coisas estúpidas. Cansei de esperar por ti, que nunca vem, mais ainda cansei de não esperar por ti para ver se você vem. E você não vem. Você nunca vem. E eu aqui, não te esperando. Tentando levar a minha vida. Tentado ouvir palavras vazias. Tentando me enganar. E nada de você ainda. Nada. Muito se diz sobre auto-suficiência, porra. E quando você chegar? Quando você chegar te deixarei escapar. Não saberei que você era quem eu esperava. Estarei cega de tanta espera. Espera. Espera. Ops! Não-espera. Não-espera. Afinal, não estou esperando por você. Quem sabe assim você vem. Nunca ninguém espera, não é isso que dizem por aí? Não-espera. Não-espera. Não-espera. E cansaço. Cansei. Cansada.

segunda-feira, abril 04, 2005

Da Dedicatória Que Já Deveria Ter Sido Escrita.

Sentimos falta de vocês dois. O ano virou, a vida engrenou, mas recuso-me a citar John Lennon quando este falou "the dream is over". No memóravel 2004, nossas quatro vidas se cruzaram. Celebramos muito por isto. Passamos momentos felizes, onde nos beijamos, abraçamos, dançamos e choramos. Alopramos.
Para o meu irmão caçula: sinto sua falta. Das suas elocubrações, dos seus medos, do seu equilíbrio, da sua serenidade. Sinto falta de discutirmos se Jean Valejan foi FDP ou não roubando a prataria. Sinto falta de começarmos a discutir o seu projeto de doutorado e terminarmos perguntando porque todos aqui falam "fábrica da Audi" e não "fábrica da VW" (A VW é dona da Audi). Sinto falta do tratado que nunca foi escrito, "Da ignorância como forma de legitimação". Ou "Da relação entre o pingue-pongue e a manutenção de um estado stalinista na República Popular de China".
Para a por ele venerada: sinto sua falta. O mundo desaba, mas você o olha do mesmo jeito, entediada. Para que desabar e mudar tanto, se no fundo os objetivos permanecem? Nunca mais plantamos bananeiras. Nunca mais teorizamos sobre o maldito curativo no cangote de Marcellus Wallace e a sua possível relação com a maleta que Julius e Vince foram tomar do Brett.
Eu e a Doutora continuamos levando nossas vidas, que apesar de muito trabalho, tentamos levar dentro da normalidade. Não a normalidade utópica e intensa do final do ano passado. Esperamos que as rotinas se acomodem, a vida acalme e tornemos a, todos juntos, celebrarmos. Não estamos tristes ou preocupados. O que são uns meses diante de toda a vida de companheirismo que nos espera? Mas não podemos negar que, enquanto isto, gostaríamos de vocês por perto.
Beijos nos dois.

PS: LETi, sei que quebrei a única regra do blog. Não foi intencional. Foi de coração e de momento.

quarta-feira, março 30, 2005

Sobre formigas e ácaros

O negócio começou cedo. De um lado a formiga, cansada e mau-humorada. De outro, o ácaro, feliz da vida a cantarolar. Ela vinha de semanas de tensão, muita dor-de-cotovelo, muitas palavras não-ditas (e malditas), muito rock’n’roll, muita bebida, muito descompromisso, enfim, perdida na vida. Mal sabia de sua condição de himenóptera. Uma total amnésia existencial. Foi quando deu de cara com o ácaro. Ele a chamou de formiga, emendando um glorioso 'bom dia'. Aquilo lhe parecia ultrajante. Como se atrevia o ácaro?? Ela logo o chamou de agente patológico, de aracnídeo mal-resolvido. Ele riu-se inteiro. Gostou dela. Ela, mesmo o achando insuportável, acabou por se render, depois de muitos esforços acarofílicos para combater aquela acarofobia toda, aos seus galanteios. Mas deixava bem claro: 'ele é apenas meu fuck buddy, ouviu?!'. O tempo passou. A formiga, encantada com a acarodomácia que produzia a acarofilia entre eles, em seu leito verdejante, passou a corar quando lhe perguntavam sobre o ácaro. Pois bem, meus caros, não há outra verdade, embora a formiga não queira admitir. Ela está mesmo apaixonada!!!

domingo, março 27, 2005

As mãos

Encontravam-se os dois ali, deitados, nus, de mãos dadas. Despertou, após um breve instante de inconsciência, para perceber que já não mais sentia a mão dele na sua. Não que ele tivesse ido embora, estava ali, onde esteve o tempo todo, com sua mão na dela. A sensação havia se tornado tão confortável, familiar, que era como se a mão dele fosse parte da sua. Sorriu e, como que comprovar para si mesma a sua certeza, espreguiçou os dedos, o que perturbou o sono da pessoa com a mão na sua. Alguém, ao vislumbrar tal cena, de certo diria "Quanta afinidade!", ao passo que ela de pronto responderia "Que nada". Agora não tinha mais certeza, a não ser que sua mão estava coberta por outra. - Que coisa! Nunca sabia ao certo, sempre andava sobre ovos. Não podia se recordar de uma única relação em que a natureza desta estivesse clara. "Tá bem, tá bem, uma ou outra ainda vai". Estava angustiada. Não sabia se fazia, queria ou poderia reverter o quadro, só pra não variar um pouco. Perguntava-se se um dia saberia.

quinta-feira, março 24, 2005

Da dedicatória que não foi escrita

É desconhecida posto que separada, isolada. Solitária, está para os olhos como representação do inatingível. Ilhota? Talvez. Mas o isolamento que ostenta é apenas aquele que reflete. Guarda o canto das sereias, que sonhamos. Guarda o calvário de Ulisses, que tememos. É distante o suficiente para abrigar tudo o que sonhamos e tememos. A Ilha Desconhecida.
Sobre o seu conteúdo parece ser impossível projetar uma forma. Repousa no horizonte, intimida e incita. Cobra uma viagem que oferece – sem garantias – a plenitude, impõe o risco e nos obriga a tratar com descaso o que até então foi fatalidade. O seu acesso dispõe de caminhos variados. Todos eles impõem escolhas e ignoram o acaso.
A sua procura já foi palco para as viagens mais fascinantes. Navegadores que, deixando o solo conhecido e seguro para trás, fizeram suas velas ao mar. Todos salgaram as águas com suas lágrimas. Todos transformaram o sonho em caminho, o caminho em vida e o simples existir em desejado eternizar.
Conheço pouco a respeito dos mares ou da arte da navegação. Sobre a Ilha Desconhecida, sei apenas aquilo que o meu desejo permite. Ainda assim, bati à porta de um rei e pedi uma embarcação. Sincero e firme, o meu desejo sustentou o pedido. A embarcação foi concedida. Comecei os preparativos para a viagem. Eis que ela se inicia. Sinto o calor de um sol opressivo e a brisa refrescante. Contemplo a escuridão da noite e a luz orientadora das estrelas. Ao meu lado, tenho a cumplicidade e a reciprocidade da pessoa que desejou a mesma viagem. Com ela, o caminho é constante aprendizado e a vida é pura dádiva.

terça-feira, março 22, 2005

Sobre Liberdade e Libertinagem.

Ziraldo é um famoso cartunista brasileiro. Ícone de uma geração, catequizada pelo Pasquim, entre uma truculência e outra dos generais de plantão da ditadura. De tanto apanhar do regime ceifador da liberdade, Ziraldo parou de falar de política e passou a falar de sexo. Ficou célebre uma entrevista sua, à revista Playboy em 1980, quando declarou que nunca, nunquinha, havia broxado. Um quarto de século depois, mais coroa ainda, ele mantém a afirmativa. Um fenômeno. Tal declaração ainda hoje frequenta as rodas de boteco dos amigos. Quando alguém conta uma vantagem muito grande, superfaturando os dados da colheita da noite anterior, recebe logo os apupos: "Vai lá, grande Ziraldo!!" Relendo a entrevista muito tempo depois (mulheres, era a edição que trazia a musa Denise Dumont, vale a pena guardar até hoje), há uma série de declarações profundas, que passaram despercebidas injustamente. A que mais me toca, ainda hoje, é a seguinte: "As mulheres estão saindo para o revide, na base do 'vou te comer também'. Pô, se tudo mundo partir pra base do simplesmente dar e comer, vai ser uma merda, onde fica o amor no meio disso tudo?"
Perspectiva histórica: era o verão de 1980. Topless. Geração Dourada no Rio. TV Mulher. Marta Suplicy. Simone e Ísis de Oliveira. Desbunde generalizado. Finalmente, aqui no Brasil, ecoavam os bons ventos da liberação sexual. Mulher, agora, não simplesmente dava, mas opinava e, porque não dizer, estava começando a comer também. Como anarquista e humanista, acho isso o máximo. Sem querer fazer média. Mas o grande Ziraldo, de pé (sem trocadilho), ainda braveja: "Porra, e o amor?"
Em todas as revoluções avançamos. Mas é um jogo, basicamente, de ganhos e perdas. Mulheres, vocês ganharam em uma década coisa que milênios não conseguiram lhes dar. Faltam coisas ainda. Mas o salto foi enorme. Nós, homens, ganhamos também. Relações mais igualitárias, onde o ônus financeiro e, principalmente, emocional, passa a ser um fardo dividido em duas costas. Mas perdemos algo. Hoje em dia, são vários os receios no início de uma relação. É um verdadeiro vale tudo emocional. Toma lá, dá cá. As pessoas, de ambos os lados, não mais se entregam. Dão a mão, mas já entram de sola na canela. Dão um beijo, mas à la Sharon Stone, com um picador de gelo na mão cerrada nas costas.
Utopia. Já pensou um mundo com todas estas conquistas, mas com espíritos desarmados? Já pensou que máximo, ser escolhido por uma mulher, ser conquistado e envolvido por ela, "sem medo de ser feliz"? Quem sabe não está na hora de passarmos para a próxima fase desta revolução? A do amor baseado na autoconfiança e confiança mútua?
Tenho vivido os últimos 3 meses e meio desta maneira. Não tenho do que me queixar.
Beijos a todas.

PS: Tore, na verdade, é _Ne_. Vou assinar com o nickname carinhosamente dado pela irmã de uma das donas deste espaço.

quarta-feira, março 16, 2005

A Cebola e a Cenoura

Há um ano atrás, estávamos tentando nos encontrar. Lost cause, O Verdadeiro Você, Fases de toda mulher nossa de cada dia, Antes só do que mal acompanhada, Dicionário, e muito This hurt will hurt no more. Paixão, desilusão, dor-de-cotovelo, esperança, esquecimento, carência, piranhice, nova paixão. Muitas foram as percepções da realidade, mas o mote era invariavelmente o mesmo. Mudaram alguns personagens, vieram mais amigos, e os comentários nos enchem a alma. Os posts da _Me_ sempre incompreendidos. As minhas pseudo-poesias que talvez digam alguma coisa qualquer. As palavras sentimentalíssimas da *Star. Um ano depois, quais são os resultados? Mais TPM, mais dor-de-cotovelo e ainda mais palavras cósmicas e despretensiosas... Só que desta vez, as coisas estão diferentes. Nos encontramos nas palavras. Eu. Você. Todos. Algumas de nós encontraram a paz. Outras procuram livrar-se dela. Há até quem ainda não encontrou nada, mas continua procurando. E, como o Cebola precisava de um alter ego, algo que trouxesse uma visão do outro lado do espelho, convidamos dois queridos amigos para fazerem parte deste universo do palavrório sentimental. Com vocês, a partir de hoje, o _Ne_ e o **Leleu**. A nossa parte masculina. O outro eu do Cebola: a Cenoura. Eles já escrevem seus próprios blogs, e agora vão desvendar e compartilhar conosco suas neuras, preocupações, alegrias, bobagens, medos, convicções, opiniões, dúvidas, enfim, tudo o que está sob o invólucro de um ser masculino, tão misterioso e incompreensível para nós, mulheres. Sejam bem-vindos, Nê e Leleu!!!

domingo, março 13, 2005

Meio-termo

Meio-termo, meio-termo, meio-termo.
Será que se eu repetir diversas vezes eu entendo?

Meio-termo, meio-termo, meio-termo...

terça-feira, março 08, 2005

Clichês

Hoje não acordei para clichês, nem lugares comuns. Usei peças de roupa repetidas, com outra combinação. Entrei por outra porta, sai pela lateral. Dormi no sofá, para variar. Não peguei o elevador, fui pelas escadas. Fiquei a pé. O cabelo sujo, contando somente com tic-tacs para disfarçar, e nem liguei. Vesti uma meia de cada cor. Troquei o relógio de pulso. Não demonstrei animosidade. Não me comemorei hoje, me comemorei ontem. E antes e antes.

quinta-feira, março 03, 2005

McRomance

Já acho que amor de novela não existe. Muito menos aquele amor cinematográfico, que leva os pobres coitados dos protagonistas de filmes a moverem montanhas. E aquelas canções de amor? Tudo farsa, mentira. A realidade é diversa, é, bem, a realidade. Fato é que a grande maioria de nós anda pelas ruas sem seu par ao lado. As mãos seguem o balanço sozinhas. O versos são vãos, irresponsáveis. Ah, e o velho fingir na hora rir! E toda aquela baboseira nonsense de que quando menos se espera, a pessoa da sua vida aparece. Cansei! Me falaram que não se escolhe a hora de se apaixonar. Pois bem, eu estou escolhendo. Quero me apaixonar enquanto aindo sou jovem. Estou escolhendo não escolher tanto. Estou escolhendo o caminho fácil, um McRomance. E sim, eu quero fritas para acompanhar.*

Post chato, de um dia chato, com uma tpm chata.

*Do filme "Eternal Sunshine of the Spotless Mind"

domingo, fevereiro 27, 2005

Em tempo, ao tempo

Telefone. Nada. Distrai-se, mas já confere se por acaso não escutou o sinal de mensagem em seu celular. Bate o pé. Vai fazer hidratação no cabelo. Não aguenta. Desgraçado, filho da mãe. Quem sabe e-mail? Filme desinteressante na televisão. Finge que presta atenção. Frio na barriga, enjôo. Dorme. Sonha. Não estaria ele online? Vê, pela quinta vez em menos de um minuto, os ponteiros do relógio. Igual. Espera, outra vez. Ops, ele logo ali. Arrepende-se por não ter colocado outra roupa. Oi, olá. Tudo bem, tudo e você. Tenho que ir, como quiser. Merda! Chocolate. Estepe. Outro filme, dessa vez ligeramente menos desinteressante. Pode-se até dizer que prestou atenção. Ainda nada de e-mails ou mensagens. Come, afinal, se gorda, pelo menos ele terá algum motivo pra não ligar. Desiste. Show. Livro. Cinema. Bar. Quando vê, a espera se torna cada vez menos dolorida. Até que não há mais pelo que esperar.

Boa nova é a insistência dos segundos e minutos em passar, assim as horas e dias também. De repente outra semana. Sim, o velho chavão o-tempo-cura-tudo. Cura mesmo. Mas quem vê graça nisso? Há que se reconhecer uma certa tristeza neste fato, aquilo que enfraquecia os joelhos, hoje não passa de mera lembrança. Não causa mais dor, apenas uma ligeira estranheza. A angústia se agarra na esperança, no romance, e assim se vão todos. Nada mais a preencher o que quer que seja.

Só resta um brinde ao tempo, nosso triste salvador.

sábado, fevereiro 26, 2005

É hoje

É hoje que a noite vai ser boa. É hoje que eu conheço alguém, que me faço entender. E hoje que eu danço até as canelas doerem, que o que eu pedi sai do jeitinho que eu gosto, que toca a minha música. Espera-se que seja hoje que ocorra uma mudança, que não seja aquele "É hoje" vazio, aquele "É hoje que eu volto sozinha", "É hoje que as músicas são ruins". Não que se possa botar defeitos em minhas noites...

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Lua Adversa

Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir pra rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
Tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para o meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é o dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

(Cecília Meireles)

Na falta de inspiração, recorro à dos outros...

domingo, fevereiro 20, 2005

O Inusitado

Nunca fez parte da minha vida
Vem um dia dizendo palavras
Que transbordam sentimentos difusos
Nunca pensei que pudessem
Um dia fazer qualquer sentido
Não peça palavras seguras
Apenas dê-me motivos razoáveis
Diga-me com seu coração
Se seus sentimentos são confiáveis

domingo, fevereiro 13, 2005

O Segredo

Queria poder dizer tantas coisas. Queria poder saber tantas coisas. Sei apenas que por mais que o tempo passe, nunca saberei do que se passa em si. Do que verdadeiramente quer. Do que verdadeiramente busca. Do que verdadeiramente esconde, de modo tão silencioso. Será que é tão impossível que sejamos mutuamente verdadeiros? Será que estamos fadados a morrer com segredos que passamos a vida a desejar com quem partilhá-los, a quem confiá-los? Será que somos tão sozinhos ao ponto de inexistir tal cumplicidade? Será que as nossas construções ideais são tão inatingíveis ao ponto de serem inexistentes? Quero desvendar tais segredos, mas que a resposta deles me venha em tempo, pois desejo desfrutá-las. Que me venha hoje, pois o amanhã é incerto. Que me venha como uma luz, pois da escuridão me basta estar só.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Da Mulher Moderna

Mulher moderna não tem medo de demostrar seus sentimentos, até porque via de regra, não tem nenhum. Mulher moderna não é o que se convencionou chamar de uma boa namorada, pois dificilmente faz as vontades de seu parceiro. Não há que se abrir a porta do carro para uma mulher dessas. Segurança. Independência. Não tem remorso, não se arrepende. Foda-se. Mulher moderna (ab)usa. De homem, de bebida, de roupa. Não hesita em chamar o cara que for pra sair. Liga, dá o fora, some. Não se apega. Ela gosta do descontrole.

Após certa modernice, cansei. Há tempos perdi o meio termo. Agora, o quero de volta. Nem o céu, nem o inferno. Nem quente, nem frio, apenas morna. E quem quiser, que me vomite*.

* Carta de Laudicéia, da Bíblia. "Seja quente ou seja frio. Não seja morno que eu te vomito". Quem diria, uma atéia citando passagens bíblicas...

segunda-feira, janeiro 31, 2005

A Dúvida

A dúvida é tripartida
De um lado a vaidade
De outro a insegurança
E acima o medo
De perdê-lo
De não ser o necessário
De nunca tê-lo tido verdadeiramente
Apenas e tão-somente
A incerteza
Que consome
Que mata
Que afasta
E que acaba

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Quem sabe

Às vezes não me reconheço entrelaçada em meus pensamentos
Às vezes minhas palavras divagam sem sentido
Às vezes sou alguém cuja poesia transvasa sentimentos
Às vezes meus versos se perfazem sem motivo

Penso que às vezes posso enganar-me facilmente
Penso que às vezes minha ingenuidade precede minha maneira
Penso que às vezes posso estar apenas carente
Penso que às vezes pode meu sonho durar a vida inteira

Pode ser que agora não faça idéia de quem sou
Pode ser que amanhã o sol revele o que sonhei
Pode ser que ontem é o que sequer passou
Pode ser que um dia o coração me diga que amei

Hoje não penso, amanhã espero, o depois é quando.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Perdendo a linha no baile

Tenho dificuldade para entender quando me dizem que o cara certo aparece quando não se está esperando. Afinal, quando é que não estamos esperando encontrar aquele que nos entenderá?

Ontem eu bebi. Bebi demais. Bebi porque estava esperando, bebi porque estava triste. E perdi a linha no baile. Pelo menos deu pra dar umas risadas...

terça-feira, janeiro 25, 2005

Ano novo, velhos anos

O ano novo, pretensiosamente futuro, começou cheio de passado. Fui, vi, fiz, cai. E reencontrei, muito. Obscureci. Também senti. Medo. Sensação de urgência. De fuga. Corri. Mas, será que voltei? Ainda não descobri.

Balanço do ano que passou? Por enquanto não. E qual o porquê da estática? Das coisas delimitadas? O que foi ruim ou bom - e, pra quem se importa, maravilhoso, terrível, intenso, inexplicável, infeliz, vivo - é, não foi. Estamos irremediavelmente unidos, juntos, para sempre inseparáveis.

Também não soube o que quis dizer com toda essa baboseira, que infligi aos seus olhos. O que começou como uma idéia feliz, acabou por entristecer. Achei que me encontrei. Errei?

"Se o que eu sou também é o que eu escolhi ser, aceito a condição"
O velho e o moço, Los Hermanos


quinta-feira, janeiro 13, 2005

O espaço vazio entre nós

Vamos, vá embora! Mantenha distância! Anda, dê um basta! Será que ainda não percebeu que gosto de sua ausência? Não notou que aprecio não poder te ter? O espaço vazio entre nós é mais bonito. Talvez porque de perto meu fracasso seja muito aparente. Afinal, o que mais posso pedir de alguém que é carinhoso, baterista, usa all star, deixa a barba por fazer e além disso tudo, ainda me quer? Mas não consigo, você não é pra mim. Pelo menos, não agora. Quem sabe em uma canção do Los Hermanos eu não mude de idéia... De novo...

Não, isso não é uma declaração. Talvez seja um "eu gostaria". Um "eu gostaria de te querer, mas não quero". Acho que está mais pra um "não dá".

domingo, janeiro 09, 2005

Viajar me alimenta a alma

Andava preocupada. Acreditava que Buenos Aires não poderia comigo. Quem não pode com Buenos Aires fui eu. A ceia de Ano Novo - salgadinhos - foi no Albergue da Juventude, o porre na rua e a cura da ressaca se deu na grama de uma praça.

Entrei no novo ano aprendendo algumas coisas. Aprendi que não se deve misturar vinho, champagne barata, cachaça sabor de canela e cerveja, e no caso de se misturar, não tentar dançar tango, porque você vai cair e machucar o joelho; que não se deve passar mal no albergue e obrigar a sua amiga a te dar banho frio.

Entrei no novo ano esquecendo de coisas, andando pelo Cemitério, dormindo na praça com os mendigos, protestando. Entrei com calor, na flor, com dor, com saudade, dormindo com o inimigo. Escutei sabedorias de um fotógrafo/cartomante. Me disse que eu era feliz, estava estampado em minha cara. Foi um bom começo.

Um brinde a Buenos Aires!