terça-feira, maio 31, 2005

Amor desses de cinema

O de sempre. Acordou com um mau-humor desgraçado. Monossilábica. De quebra, aquele sono irritante. Claro, assim que pôs os pés na rua, um casal passeava de mãos dadas pela calçada. Daqueles felizes para sempre. Que coisa idiota! Direto para o ponto de ônibus. Não deu outra. Outros dois se beijando. Tentou não olhar. Entrou na lotação. Pagou a tarifa, entediada. Sentou-se. Estava querendo prestar atenção em nada. Olhar os lugares passando pela janela. Distraída, olhava para um canto. Notou alguns pés. Quatro, em particular. Que droga, não se separam! Levantou o olhar. Adivinha? Mais um par de pombinhos. Daqueles de propaganda de creme dental. Quis soltar um grito, mas, a essa altura, ou gritava ou descia. Desceu. Foi caminhando. Tropeçou um pouco. Resmungou. Xingou. Entrou em um prédio. Enquanto aguardava parada, pensava consigo. Amor, desses de cinema, só mesmo em contos da Carochinha. Entrou no elevador. Mal sabia ela que esse tal amor de cinema existia sim. Bem ali, ou aqui, sabe-se lá. Seu maior inimigo, no entanto, ela mesma. E amor existe para quem quer que diga não estar apaixonado?

quarta-feira, maio 25, 2005

O mundialmente famoso tapa buraco OU AINDA músicas que falam por mim

"These bonds are shackle free
Wrapped in lust and lunacy
Tiny touch of jealousy
These bonds are shackle free"

Placebo - Ask for answers


"Esses laços estão livres de amarras
Revestidos de luxúria e loucura
Pequeno toque de ciúmes
Esses laços estão livres de amarras"

segunda-feira, maio 16, 2005

Adaptação

"A vida é curta. Eu preciso aproveitá-la ao máximo. Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida. Eu sou um clichê ambulante. (...) Se eu parasse de deixar as coisas para depois eu seria mais feliz. Tudo o que eu faço é sentar sobre a minha bunda gorda. Se a minha bunda não fosse tão gorda, eu seria mais feliz. Eu não teria que usar essas camisetas com a ponta para fora todo o tempo. Como se aquilo enganasse alguém. Bunda gorda. Eu deveria começar a correr novamente. Cinco milhas por dia. Realmente fazê-lo dessa vez. Talvez escalada. Eu preciso mudar completamente a minha vida. O que eu preciso fazer? Eu preciso me apaixonar. Eu preciso ter um relacionamento. Eu preciso ler mais e provar a mim mesma. E se eu aprendesse a falar Russo ou começasse a tocar um instrumento? Eu poderia falar Chinês. (...) Por que eu deveria sentir que eu tenho que me desculpar pela minha existência? Talvez seja a química do meu cérebro. Talvez seja isso o que eu tenho de errado. Química ruim. Todos os meus problemas e ansiedade podem ser reduzidos para um desequilíbrio químico ou algum tipo de sinapses falhas."*

Não sou nenhuma mulher problema, espero. Talvez seja. Não escrevo odes à TPM, apenas esta afeta meus escritos. Tenho relacionamentos pós modernos. Será que estou perdida? Se estivesse, talvez escrevesse um ode à TPM. E isto não é um ode à TPM. Isto é apenas o que eu sinto. Agora. Não o que senti há dez minutos. Não o que sentirei amanhã. Talvez. Mas por enquanto, por hora. Sentimentos esboçados por outro, traduzidos por personagem de filme. Adaptados. Isto são apenas reflexões. Reflexões para o Cebola Roxa. Não sou a _Me_. Ela é apenas a minha manifesta parte bipolar, paranóica e tepeêmica.

* Fala da personagem Charlie Kaufman, no filme "Adaptação".

quinta-feira, maio 12, 2005

Bom Mesmo é Sofrer(? ou .)

Amor que é amor tem que doer. Tem que ser sofrido. Tem que jogar o coração boca à fora. Tem que dar gastrite, ansiedade, esquizofrenia. Se for verdadeiro, no começo é assim. Depois, para se justificar, tem que dar paz, tranquilidade, satisfação, tesão, paixão.
Gosto de citar Bossa Nova quando falo de amor. Podem conferir meu post em 03/12/04 no Notícias do Balneário, "Samba de Primeira Classe" (vão lá ver o jabá: http://noticiasdobalneario.blogspot.com). Novamente, concordo com o Maestro:

Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é saber
que ninguém pode viver de ilusão
Que nunca vai ser, nunca vai dar
Num sonhador, tem que acordar
Sua beleza é um avião
Demais pra um pobre coração
Que pára pra te ver passar
Só pra me maltratar
Triste é viver na solidão
Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é saber
que ninguém pode viver de ilusão
Que nunca vai ser, nunca vai dar
Num sonhador, tem que acordar
Sua beleza é um avião
Demais pra um pobre coração
Que pára pra te ver passar
Só pra me maltratar
Triste é viver na solidão
Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é viver na solidão
Na dor cruel de uma paixão
Triste é saber
que ninguém pode viver de ilusão
Que nunca vai ser, nunca vai dar
Num sonhador, tem que acordar
Sua beleza é um avião
Demais pra um pobre coração
Que pára pra te ver passar
Só pra me maltratar
Triste é viver na solidão.

Estou numa fase de minha vida em que encaro o amor de forma diferente. Gosto do companheirismo. Daquele esfregar de meias ao amanhecer numa manhã de inverno. Do café mal passado e compartilhado, às pressas, de manhã cedinho. Daquele porre homérico a dois, dançando no aperto do Korova. Daquele "cinema transcedental", no Cinemark (abaixo os braços de cadeiras em cinema!), seguido de uma cerveja com discussão sobre o tema no Dom Max. Em seguida, esticamos no James e tomamos café da manhã no Fran´s, ou qualquer padaria não respeitável que se apresente. Nós, homens, somos acostumados a fazer estas esticadas de 3, 4 programas em uma noite só. É massa. Quando rola um "Retroceder Nunca, Render-se Jamais", é o bicho. Fazer tudo isso ao lado da cara metade é melhor ainda.

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem pra seguir viagem
Quando a noite vem

E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega, mas não lava
Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo te alucina, salta e te ilumina
Quando a noite vem

E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço
Quero pesar feito cruz nas tuas costas
Que te retalha em postas mas no fundo gostas
Quando a noite vem

Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, a ferro e fogo
Em carne viva
Corações de mães, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sente...

Quem escreve acima é o Chico. Talvez Chico seja o único homem que entedeu o verdadeiro sentido do amor do ponto de vista feminino. É ele, e apenas ele, quem canta desventuras amorosas de uma maneira tão feminina, que dá vontade de passar conversa até na Maria Bethânia, quando ela o canta.
Nos últimos 10 a 15 anos, foi o ápice da "mulher problema". Odes ao TPM e à independência feminina! Passou a ser charmoso a desconfiança, o egocentrismo, o consumismo. Esteticamente, enebriaram-se em penduricalhos e roupas que as deformam. Acho que passou-se uns 10 anos admirando uma beleza durante à noite para acordar ao lado de outra pela manhã. Só que esta, ao contrário do saber comum, era mais bela do que a noturna. No comportamento, virou "cool" mimetizar o "cool".
Depois de muito tempo, ninguém mais aguenta este tipo de mulher. Surgiu a nova mulher. Companheira, amiga, naturalmente linda.
Por um tempo, confundimos sofrimento de amor com mau humor e outros sentimentos pedantes. O fato de não ter retornada uma ligação, não significava aquela dúvida, aquele anseio generoso. Significava insegurança, má educação, desleixo.
Amor que é amor, machuca, mas cuida da alma. Viva à alvorada da Nova Mulher. Seleção Natural. Adapte-se, ou suma.

Alvorada
Lá no morro, que beleza
Ninguém chora, não há tristeza
Ninguém sente dissabor
O sol colorindo
É tão lindo, é tão lindo
E a natureza sorrindo
Tingindo, tingindo

Você também me lembra a alvorada
Quando chega iluminando
Meus caminhos tão sem vida
Mas o que me resta
É bem pouco, quase nada
Do que ir assim vagando
Numa estrada perdida.

(Carlos Cachaça/Cartola).

quarta-feira, maio 11, 2005

Dito de outra forma

A aventura é irresistível. O seu canto é convincente – muitas coisas absurdas parecem convincentes quando se vive a aventura, quando se ouve o seu canto. A aventura é intensa. Intensidade é algo que se deseja. É por isso que tentamos constantemente transportar a lógica da aventura para o futuro: “sim, é para sempre”. É fácil pensar no “sempre” através da intensidade do presente. É ainda mais fácil cair na tentação de aprisionar o futuro através da sinceridade do presente. Nunca houve amante mais sincero e intenso do que Casanova. Olhar para o futuro e admitir a incerteza é difícil. Admitir que o encanto da aventura só faz sentido no presente pode ser insuportável. Aceitar o desafio de renovar o encanto da aventura a cada dia ... isto é dádiva.

terça-feira, maio 10, 2005

Sobre relacionamentos pós-modernos

Você olha, você deseja. Quer. Não quer. Quer, sim. Beija. Beijo este que, de preferência, dure "felizes para sempre". Ou não. Fica junto. Gruda mesmo. Ama muito. Ou pouco. Apaixonadamente. Aí começam as promessas. Prometa daí que eu prometo daqui. Para sempre. Para nunca. Tudo e nada, quando o nada é alguma coisa. Quer até o último dia. E o que significa último dia quando se trata do volúvel e iludível coração humano? Boa pergunta.

quinta-feira, maio 05, 2005

Generation Gap

- Mãe, tô saindo.
- Onde você vai?
- No cinema.
- Com quem?
- Com Victor Manuel Cortéz*
- Quem é esse, Melina Angélica*?
- Um cara com quem estou saindo.
- E ele faz o que?
- Ele é baterista de uma banda.
- Ai minha filha, será que dessa vez você não poderia ter arranjado alguém, assim... normal?

Baseado em fatos reais...
* Os nomes foram modificados para proteger os não tão inocentes