quinta-feira, dezembro 07, 2006

Megalomania

Você queria intensidade. Você queria se queimar por dentro e incendiar tudo à sua volta. Queria ver luz, brilho, chamas. Queria um alarde só, uma coisa surpreendentemente alucinante, um algo assim vertiginoso. De coisa sem graça você está cheia. De palavras toscas, de sorrisos amenos, de manifestações insossas, de atitudes inertes, de tudo isso você quer distância. Você queria um algo a mais. Diferente. Inesperado. Você queria sentir aquele frio na barriga, aquela sensação de ansiedade, aquele sentido de inquietação. Queria emoção, aventura, luzes, câmera. Nada de cortes. Nada de edições. Queria ao vivo e em cores. Queria sentir-se levemente insana, totalmente desejada, completamente entregue ao vento e às marés. Você queria ser levada por um furacão. Mas nada disso aconteceu. Ou talvez você quisesse sentir que estava viva. Apenas viva. Você está?

quarta-feira, novembro 01, 2006

O golpe

Você abre os olhos na esperança de ver o sol da primavera. Tudo está quieto lá fora. "Devo ter acordado muito cedo", pensa. Olha para o relógio. Já passam das dez. "Nossa, será que eu dormi por apenas vinte minutos?", você se pergunta. O quarto está escuro. Das frestas da janela não se vê luz alguma, senão aquelas da cidade. "Não é possível", você se levanta e vai até a janela. Antes de abrir a cortina, escuta o tilintar das gotas. "Não acredito...", você lamenta. Um mar de guarda-chuvas escuros e cinzentos passeia nas calçadas. Mal se vê as pessoas por debaixo deles. A chuva cai insípida e constante. Gotas fartas encharcam o chão. Longas filas de carros infestam as ruas. "Estou atrasada", pensa. Já não há mais tempo para caminhar ou andar de bicicleta. Ainda mais na chuva! Você volta para a cama. Dá um leve suspiro preguiçoso. A chuva lá fora conforta. O sol ainda é a droga do ânimo.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Dias que "não"

Às vezes você acorda com um ânimo tão grande que chega a ser insuportável. Daqueles que você não sabe de onde veio. Leva o dia naquele pique sorridente. Não se importa com nenhuma das notícias horríveis do jornal. Não consegue fingir tristeza, nem quando um amigo está na pior. Não sente preguiça pra malhar. Não vê a hora passar enquanto trabalha. Não precisa olhar no espelho, pois se sente linda. Não tem dificuldade para lembrar das coisas. Não se incomoda com gente mesquinha e invejosa. Não tem que dar satisfação para ninguém. Não precisa sofrer para entrar naquela calça jeans. Não faz muito esforço para conseguir fazer tudo de maneira excelente. E não tem a mínima idéia, nem se importa com o que pode acontecer no minuto seguinte. Aí é que as coisas desandam. Um pinguinho no seu céu de brigadeiro traz uma tempestade cheia de tufões. Imprevisível e desastrosa. Há dias em que a vida é linda, leve e solta. Simplesmente perfeita. Há dias que "não". Simplesmente não.

segunda-feira, junho 05, 2006

Da insignificância e da aniquilação do humor pessimista

Acordei de péssimo humor. A inércia não me contenta. A preguiça é irritante. As palavras de alento são odiosas. A vontade de gritar é iminente. Os pássaros têm cor de neve. O céu é puro gelo. O ar é pesado e frio. Pro inferno a desilusão. Pro inferno a dor. Pro inferno as angústias existenciais e o romantismo cego. Pro inferno tudo aquilo que reflete cheiros, e que cheira a imagens. Pro inferno tudo que é irreal. Pro inferno tudo que é real. A mim, resta-me o sonho. Com ele que hei de iluminar meus pensamentos. Com ele deitam-se os sentimentos ruins em busca de purificação. Com ele o péssimo humor não passa de uma simples partícula de poeira, que o vento leva para longe. Com ele o coração renova a alma e aquece os dias. Com ele nem a pior das tempestades destruiria o que há de mais belo e sublime: o amor.

segunda-feira, maio 22, 2006

Confusão confusa

Eu disse que tinha ouvido alguém falar que escutou dizer algo mais ou menos daquele jeito, entende? Não adiantou nada me avisarem que eu iria cair em uma armadilha qualquer dia desses quando eu menos esperava. Esperei, mas não esperava, sabe como? Nem eu sei, essa é a verdade. Nem sei do que iam me falar que escutaram alguém dizendo uma coisa que era importante. Ou que não fazia a menor diferença. O fato é que sempre que alguém escuta dizer que falaram alguma coisa é porque não se deve abrir os ouvidos. Never ever.

segunda-feira, maio 08, 2006

Isso não é TPM. É pior.

Aquela sensação irresignante está de volta. Um desconforto interno insuportável que queima a alma. Um sei-que-não-sei lá, incompreensível. Não entendo isso às vezes. Minha mente racional tenta racionalizar coisas que talvez sejam irracionalizáveis. Afinal, o sentimento é irracional. Ou não? A causa dele seria racional? E, depois, o corpo desconfortável pagaria o preço dos efeitos da suposta racionalidade? Tantas perguntas inúteis. Não me servem de nada perguntas sem respostas agora. Elas só potencializam os efeitos das queimaduras. E como elas dóem. Têm a ver com alguém, alguma coisa, algum lugar. Não sei bem ao certo precisar. Ou sei? Talvez saiba. Mas não quero que isso se transforme em letras. Muito menos em palavras. Pior ainda em frases. Tampouco em significado. Talvez eu queira ignorar o ignorável. Que o amor nunca passou daquela mera ilusão. De uma nuvem passageira que consome e mata. Não importa quanto tempo gaste para fazê-lo. Mas o final mórbido é indelével. Estamos fadados a isto? Seria uma maldição? Estaríamos presos ao mito de Eros? Não sei. Talvez quisesse saber. Talvez quisesse, ainda, descobrir isto com alguém. Mas a voz que acompanhava a minha se foi, em devaneios incompreensíveis. Não mais diz. Apenas murmura. Produz sons estranhos a mim. Quisera eu compreendê-los. E nunca deixar de fazê-lo. Assim, a plenitude estaria restabelecida. E a felicidade uma constante.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Bossa nova é charmosa. Burton é genial. Mas TPM é TPM.

Cheia de graça é a Maria. Ou aquela de Ipanema. Eu fico aqui jogada mesmo, tipo a Sally do tal de Jack. Mas não confunda as bolas: Jack da Rose afundou no gélido mar do norte. Falo do Jack cara de abóbora. E também não é aquele da festa de Halloween, em cuja cabeça costuma-se colocar uma vela, mas do Burton, que fez o Batman. Batman o filme, não o programa televisivo. Isso é para que o leitor não viaje, pensando que estou fazendo uma referência oculta e criptografada a uma cena do Pee-wee, em que aparece o carro do seriado dos anos 60 perto do símbolo da Warner Bros. E quando digo viagem, me refiro à figura de linguagem, não à viagem propriamente dita. Pode ser que essa gíria não seja mais tão usual. Pode ser que já seja coisa do passado. Pode ser que volte a ser utilizada no futuro. Só mesmo Emmett Brown para responder essa. Agora já estou trocando Tim por Steven. Pensando bem, como estou fácil, né? É? Acho que não. Não mesmo. Já é tempo que eu fale do que sinto e pare de perder tempo. Ou sono. Estou com sono. O fato é que cheia de graça, só se for para os outros caírem na gargalhada. Sinto-me feia como o patinho feio. Só que sem esperanças de me tornar um cisne. Gorda, feia, chata e cheia de espinhas. Em situações como esta, dizer não é dizer sim. Não saber o que é bom pra mim. E não é que agora consegui misturar pato com abelha?!