terça-feira, dezembro 11, 2007

_Me_ - A Ressureiçao ou ainda Bad carma é foda

Ok meu amores. Aqui estou! Morrendo de sono, claro. Como sempre. Algumas coisas nunca mudam. Mas outras sim. Nem que seja no sentido físico da palavra. Então. Me mudei. Grande coisa, notícia velha. Mas como faz uns dois anos que não escrevo aqui, devo informar aos que não foram ainda informados, que agora moro na Itália. Mais precisamente em Milão.

E essa semana foi de incursões no submundo vip milanês (esses dois vao ser os ultimos acentos que eu vou por, porque ir no google achar palavras com acento pra dai colar aqui é muito cansativo - exceto o e com acento que ja vem com acento no teclado daqui pq existe em italiano também). E eu definitivamente estou ficando - se ja nao estou - velha demais pra isso.

Sexta passada resolvi sair com uma bicha, mas bicha mesmo, até o ultimo fio de cabelo loiro tingido e, meio contrariada, fui parar na zona das baladas dos ricos e famosos de Milao. Chegando la eu percebi um cara escondido atras de uma arvore, com uma camera com aquelas lentes looongas. Achei estranho. Cheguei a achar que ele estava me fotografando. Louca, por certo. Eu nao percebi que o cara escondido-na-arvore-com-a-lente-longa era na verdade um paparazzo! E claro que nao tinha um papparazzo no meu encalço...

A luz so veio no momento em que eu vi um dos principes de Monaco, que eu tinha conhecido uma semana antes, porque - preparem-se, frase do tipo tia da prima da amiga da minha prima a caminho - uma amiga minha esta de namorico com um alemao que estuda com ele e, fofoca, nos contou que o menino ja pegou umas 500 dependencias na faculdade porque chega todo dia cheirado. Com efeito, ele tem cara de marginal e nao de principe. Bem, assim que o principe/marginal estava passando por mim, o paparazzo sai correndo de tras da arvore e vai colocando a lente na cara do menino, que a esta altura ja tinha claramente percebido que aquilo nao era so uma arvore, mas sim uma arvore + cara + camera + lentes longas. O principe corre e se refugia em um bar. De cheirados famosos, claro.

Depois dessa cena bizarra entramos num bar mais bizarro ainda. O barman, mais cheirado que o principe, dançava, nao servia. Nao tinha pista de dança, mas todo mundo nao parava quieto. E no meio disso tudo tinha a bicha loira que estava comigo e que nao parava de pedir bebida e pagar por elas. Ai é como se diz, bebida de graça é dificil de recusar e eu fui bebendo. Aparentemente até cair, porque no dia seguinte eu acordei sem poder colocar o pé esquerdo no chao. Sabe aquele osso da joanete? Entao, tava doendo demais. Fiquei com medo de ter quebrado e pior, nao tenho a minima idéia do que aconteceu. Alias, ta doendo até hoje. E eu ainda nao lembro o que aconteceu.

Passei mal o resto do final de semana e ontem uma aluna minha me puxou no canto. Ela trabalha pra uma revista e sempre tem convites para coisas. E pelo jeito poucos amigos. Ela me convidou para uma festa, e depois de uma pausa dramatica nao longa o suficiente para dar tempo de eu recusar, me disse que eu nao podia dizer para ninguem sobre a festa pq era uma festa privada, com poucos convidados e que - outra pausa dramatica, mas dessa vez menor - ia ter uma surpresa. Eu tava cansada, nem queria ir em festa, mas eu fiquei curiosa, né? Pouco tempo depois ela me mandou uma mensagem no celular com o nome e endereço do lugar onde ia ser a tal festa e depois de uma pesquisa na internet eu descobri que ia ser num antigo tunel da estaçao central de trem. Foi ficando bom o negocio. Ai fui pra festa, me arrastando, mas fui.

Chegando la, depois de ter quase sido estuprada e atropelada no caminho - estaçoes centrais sao estaçoes centrais em qualquer lugar do mundo - descobri que era a festa de aniversario do filho do dono da Diesel e que o menino gostava muito de uma banda, entao eles tinham conseguido fazer com que a banda tocasse como presente de aniversario.

Ai eu continuei me arrastando, mas ja me empolguei mais. E a curiosidade piorou, pq a aluna nao me contava qual banda era. Ai a minha imaginaçao foi longe, pensei em varias bandas e em todo e qualquer devaneio que eu tive na hora foram com bandas que eu conhecia. No momento da empolgacao nao passou pela minha cabeça que eu poderia nao conhecer a banda misteriosa... Ai entramos e depois de esperar uma hora no meio de modelos altas e modelos lindos, mas todos inexoravelmente incapazes de conversas inteligentes, ou de reparar em uma menina com uma altura de 164 cm e outro grupo distinto, formado por pessoas mais feias e que me fizeram me perguntar "sera que ninguém contou pra eles que os anos oitenta acabaram quase 20 anos atras?", chegou o momento da banda. Que eu nao conhecia. E nao gostei muito. Na verdade eu nao entendo essa cena rock/eletronica europeia. Quando eles tocavam so com a bateria, baixo, guitarra e voz eram muito bons. Mas tinham longuissimos intervalos entre as musicas com aquela formacao, quando eles tocavam musicas puramente eletronicas, daquelas de rave. E as pessoas feias com roupas anos 80 e os modelos bonitos dançavam como pessoas de rave. E eu, obvio, fiquei com raiva. Mas de toda forma, levei o show e a experiencia na boa, afinal o lugar era inusitado e os musicos eram gatinhos.

Depois desse resumo nao tao resumido da minha ultima semana seria normal achar que minha vida amorosa esta indo de vento em popa. Pois nao esta. Saindo do forno so um fora, mas esse é matéria de outro post). Eu cheguei a conclusao que eu devo ter sido a maior vadia na vida passada e estou pagando com estiagem amorosa nesta. Bad carma é foda.

terça-feira, outubro 30, 2007

O amor e a incompreensão

No começo, tudo é mil maravilhas. Vocês entendem todos os suspiros, todos os olhares e todos os gestos um do outro. É incrível a compreensão que vocês têm, considerando-se que a cada coisa não-dita há dez beijos e uma troca de olhares profunda, sem piscar os olhos. Até que vocês precisam trocar palavras. E não palavras não-ditas, que vocês inconscientemente balbuciavam de forma incompreensível em meio aos suspiros, gestos e olhares. Palavras únicas e fortes. Você diz uma, ele responde com outra e tudo parece estar indo bem. Até que vocês precisam trocar frases. E não frases com palavras soltas, embora marcantes, como aquelas que vocês utilizaram em meio aos gestos, olhares e suspiros. Frases que façam sentido, que possam ser absorvidas pelo ser amado. Você fala algo, ele responde, você fala novamente e ele concorda, ou vice-versa. Até que vocês precisam argumentar um com o outro. Agora não basta dizer uma frase apenas, é preciso dizer muitas e com o devido fundamento ideológico. Você se expressa, ele não entende, você elabora, ele não compreende, você disserta, ele perde a paciência, ou vice-versa. Os suspiros são substituídos pelas bufaradas, os gestos pelos sinais de desacato e os beijos pelas provocações. Até que alguém ache que isso é pura incompatibilidade de gênios. Mas isso também pode ser amor ardente. E verdadeiro. Amor perdido em meio à linguagem, a grande fonte dos desentendimentos.

quarta-feira, agosto 22, 2007

O Telefone

Você está lendo aquele texto chato, mas necessário. Necessário para passar os minutos menos apreensiva. Ou mais. Levanta de cinco em cinco minutos como se tivesse algum tique nervoso. Daqueles que contaminam tudo e todos. Verifica toda a fiação existente na casa, não importa se ela está conectada ao que lhe interessa. Lê mais alguns parágrafos e as palavras insistentemente se recombinam em sua mente. Tudo o que você lê parece possuir um "tê", três "ês", um "éle", um "éfe", um "ó" e um "ene". Você até escuta "trim-trim" vindo das páginas à sua frente. A cada conjunto de palavras, você percebe repetições que revelam números insidiosos. Números que apontam um destino inevitável: o teclado do telefone. Você resiste. Afinal, você não o vê somente há algumas horas. Se você ligar agora, ele vai acabar pensando que você é uma espécie de maníaca. Você se concentra e tenta se controlar. Trinta dolorosos minutos se passam. Agora as palavras parecem estar carregadas de ironia. Todas têm "érres": a primeira letra do nome dele. Imagine, então, se a "Leidi Murphy" estivesse sentada ao seu lado. O telefone toca. Você dá um grito. Susto, claro. Você não esperava por isso. Sorri e atende, com a voz mais meiga do mundo. Totalmente cheia de amor para dar. Do outro lado da linha, o Caco, seu vizinho de sete anos, perguntando se seu irmão mais novo pode sair para brincar de rolimã na rua...

quinta-feira, agosto 09, 2007

Daqui a pouco OU In a little while

Sim, você está no Cebola Roxa. Não, você não veio parar em um clone barato. Este se trata do verdadeiro, do legítimo blog das almas atormentadas por problemas de relacionamento, TPM e afins. Calma, não vamos encerrar o blog! Ao menos não por enquanto. Durante algum tempo, ainda, vocês lerão com prazer, ou desprazer, as nossas palavras cósmicas e despretensiosas. Nossas palavras de alento e desespero. Nossas palavras de emoção e esperança. Acima de tudo, nossas palavras carregadas de dor-de-cotovelo, TPM e afins... Daremos um breve intervalo para atualizarmos nosso lay-out (nada de grandes modificações), e já já retornaremos. Aguardem.

quarta-feira, agosto 01, 2007

"LESS BRAWN AND MORE BRAINS... IS IT POSSIBLE?" ou "PROCURA-SE RHETT BUTLER DESESPERADAMENTE"

Estou cansada de homens domináveis, sem personalidade, sem opinião, superficiais, sem questionamentos filosóficos, sem sonhos ou ideais. Quero conteúdo, quero gentileza, quero amor à moda antiga, galanteios, romance, quero um cavalheiro, um companheiro, um amante, um alguém interessante, diferente, inebriante, quero uma pessoa com quem possa dividir meu tudo e meu nada. Mais importante ainda, que ele não seja perfeito. Nem queira ser. Perfeição, além de totalmente inexistente, platônico, é irritante, e torna-se rapidamente detestável. Nada mais abjeto que um ser que se julga, ou que seja, de algum modo, próximo à perfeição. Ninguém é perfeito. E é aí que está a beleza. Ame a imperfeição, porque é dela que se sente falta, porque, no fundo, é ela que nos faz apaixonar, que nos fascina sem que tenhamos consciência disso. É a imperfeição o segredo pelo qual desejamos desvendar alguém, e no qual tentamos enquadrar a perfeição. O que é imperfeito é intrinsecamente sedutor. Intensamente adorável. Perfeitamente apaixonante.

terça-feira, junho 12, 2007

Soneto da paz amorosa

Estar sereno
É brincar na chuva
É esperar pelo beijo
De nega maluca com trufa

É permanecer calado
Mas sentir-se completo
É estar separado
E querer ficar perto

É desejar na chuva molhado
E quando beija o céu encantado
Arrepiar-se por inteiro.

É estar alegre enquanto triste
É estar certo de que existe
Esse tal de amor verdadeiro.

segunda-feira, junho 11, 2007

Recado ao vazio contemporâneo

Você não é nada. Você não é ninguém. Você não passa de um vazio perdido na chuva, sem sequer sentir o gosto das gotas que escorrem pelo seu rosto desconhecido. Você vive uma vida de mentiras, agarra-se em ilusões fúteis e acha que está enganando aos outros. Mas você só engana a si mesmo. Um dia a vida lhe ensina que não se deve viver ao redor do umbigo. Que a vida é mais do que aquilo que se passa em sua cabeça pequena, em seu ego inflado, em seu narcisismo refratário. Você acha que nada lhe atinge. Isola-se em sua covardia individualista, imaginando estar imune a tudo e a todos. Mas você não está. E vai chegar a um ponto em sua vida que verá que tudo o que viveu foi uma grande mentira. Ou então que você deu valor às coisas e pessoas erradas. E será tarde demais.
Ao vazio contemporâneo, se deseja encher-se de vida, que o faça imediatamente. Acorde. Não fuja da magia. Não transforme em tragédia o beijo doce, apaixonado e inocente. Permita-se sentir sem entrar em pânico. Acalme seu coração e viva tudo o que há pra viver. Sinta o que há pra sentir, sem medos. Permita que os outros vejam o que há dentro de você. Seja alguém. Alguém de verdade. Alguém que vive a vida, e não simplesmente a vê passar. Alguém que sonha, mas está acordado. Alguém que ama sem pretensões. Alguém que sente o sempre, e espera o nunca. Alguém cujo tempo é quando.

segunda-feira, junho 04, 2007

Bons sonhos

Hoje odeio que te amo; amanhã não sei. Hoje pensei que me queria; amanhã talvez. Hoje pedi que me procure; amanhã quem sabe nem te olhe. Hoje queria porque queria; amanhã minha vontade é história. Hoje sentia saudade; amanhã não te quero mais. Hoje fui santa e pura; amanhã serei cruel e voraz. Hoje fingi que esqueci; amanhã vou fingir que lembrei. Hoje te olhava de longe; amanhã nem perto estarei. Hoje me esqueça, amanhã me beija, e, depois, acorde.

quinta-feira, maio 24, 2007

Time machine

Ele estava ali, bem na sua frente. Naquele café que vocês se beijaram pela primeira vez. Fazia muito frio. O ar gelado contrastava com a luz do sol brilhante e o céu azul turquesa. Coincidentemente, você estava usando aquele casaco longo de couro e lã que ele adorava. Você estava linda e confiante. Será que ele a estava seguindo? Parecia que sim. Ele estava batendo a perna no chão, como fazia quando estava ansioso. Você estava doida para ir atrás dele, mas queria ele no chão só mais um pouquinho. Só para que ele implorasse. A oportunidade era agora ou nunca. Você deu um sorriso maroto, levantou-se, empinou o nariz, fez cara de má, colocou seus óculos escuros chiquérrimos e começou a caminhar como se estivesse em uma passarela. Deslumbrante. Estava decidida. Esbarrou com um pouco de força, mas graciosamente, no braço dele. Soltou um suspiro de dor e surpresa, abriu a boca para um sonoro "ai", virou o rosto de lado, jogou os longos cabelos negros e cintilantes para trás, colocou a mão nos óculos e os inclinou para cima, de modo que seus olhos perfeitamente contornados de preto ficassem minimamente visíveis. "É você?", disse. Recolocou os óculos. "E eu achando que hoje o dia estava ótimo... acabou de ficar péssimo.", continuou. "Que cara é essa, de cachorro perdido? Está sozinho?", perguntou com desprezo, embora estivesse com vontade de agarrá-lo. "Na verdade, não.", ele falou. "Agora estou com você...", ele completou. Antes que o sujeito pudesse abrir a boca para completar a frase, você emendou: "Ah, mas a sua sorte vai durar pouco. Eu já não lhe falei que não o quero de volta? Você já não está cansado de ficar correndo atrás de mim? Já não lhe disse que não aceito suas desculpas furadas? Que você não significa nada para mim?". Aquelas palavras saíram do fundo de seu coração ferido. Disse tudo aquilo com um ar superior, enquanto disfarçava o misto devastador de ódio e paixão que invadiam seu corpo. Ele abriu os olhos, abaixou a cabeça, deu um sorrisinho de lado e calmamente repetiu: "Agora estou com você, porque você fez questão de levantar a bunda daquela cadeira ali (apontou com o dedo) e vir aqui esbarrar, de propósito, em mim. Mas, na verdade, eu estava esperando a Gigi...". Ele olhou atrás de suas costas e você se virou. A Gigi era uma loira esguia, com um sorriso impecável e toda simpática (daquelas que fazem você ficar com raiva). "Gigi, venha cá!", ele falou. "Gigi, essa aqui é uma conhecida... hmmm, me desculpe... como é mesmo o seu nome??". Você queria matá-lo. Você não conseguia esconder sua respiração afoita. Sua ira. Sua vontade de gritar e sair correndo. Sua vontade de grudar nos fartos cabelos loiros da Gigi e arrancá-los todos. Você cerrou os lábios, engoliu o orgulho, virou as costas e saiu. Quase em disparada. Totalmente humilhada. Se arrependimento matasse, você já estaria em estado de putrefação. Foi quando seu salto ficou preso em um bueiro e você caiu. Caiu direto em seu próprio corpo, deitada no sofá. Aliviada, decidiu que da próxima vez que o visse, iria fechar os olhos, respirar fundo e contar até dez. Estava tudo claro agora: cabeça fria seria a melhor solução até que alguma mulher desesperada finalmente inventasse uma máquina do tempo.

quinta-feira, maio 03, 2007

Extra!!! Extra!!!

Nessa altura do campeonato, os leitores assíduos já sabem que o Cebola Roxa leva o nome do ingrediente principal de uma simpatia. Também já devem saber que essa simpatia, feita com uma cebola roxa, foi utilizada em um passado remoto pela idealizadora do Cebola Roxa (essa que vos fala). Além disso, se não sabem, deveriam saber que essa simpatia me foi dada por uma (pasmem!) cartomante, que não conseguiu ler carta alguma porque eu não parava de chorar (sem comentários). Para minha sorte e para testar a minha falta de fé, a simpatia deu mais-que-certo. Assim, o Cebola Roxa tem (convenientemente) o nome de uma simpatia para aquelas pessoas que não conseguem tirar a desilusão amorosa da cabeça. Como achei que esse poderia ser o caso de muitos de nossos leitores, resolvi revelar a "receita mágica" contra os problemas de relacionamento (fora ler o Cebola). Se esse é o seu caso, anote aí:
- Compre uma cebola roxa;
- Retire delicadamente a casca seca que envolve a superfície da cebola, de modo que ela fique mais lisa (atenção: não vá "desfolhar" a pobre da cebola... é só para tirar o excesso de casca velha);
- Pegue uma caneta e escreva, em toda a extensão da superfície da cebola, o seu nome e o nome da pessoa pela qual você não quer mais sofrer (já era tempo de passar uma borracha nesse turbilhão, não é??);
- Cave um pequeno buraco em terra fértil;
- Antes de plantar a cebola, segure-a firmemente em suas mãos, olhe para ela (como se estivesse falando com ela) e repita três vezes: "Cebola Roxa se responsabilize por meu amor pelo(a) ...[Nome do(a) fulano(a)]...;
- Plante a Cebola;
- E, pronto!!!
Aquele aperto no coração (quando você pensa na pessoa), aquele frio na barriga (quando você vê a pessoa) e aquela angústia (de quem está gritando por dentro "Volte para mim") irão embora no prazo de três dias. Se a Cebola Roxa brotar e florescer, ele(a) irá lhe procurar algum dia e vocês irão voltar (se você assim o desejar). Caso contrário, essa pessoa representou uma etapa na sua vida com a qual você deveria aprender. Não precisa nem dizer o quê aconteceu no meu caso: por que você acha que resolvi nomear o blog de "Cebola Roxa"?!

terça-feira, abril 03, 2007

Sobre o tempo, essa inexorável grandeza relativa (e o amor)

Piscou os olhos. Andou pela casa, como se a tivesse visitado em um passado distante. Achou estranho a flor não estar fresca. Havia murchado. Olhou o vaso, irriquieta, pensando ter esquecido da água. Estava muito calor. Matou um botão de rosa, por esquecimento. Sua mãe iria ficar irritadíssima. Afinal, sua obrigação, além de estudar, era também de cuidar das plantas da casa. Por sua culpa, a rosa vermelha estava agora em tom de carmim envelhecido, como um papel enrugado pela chama do fogão. Não se conformava. Lembrava perfeitamente de ter colhido a rosa no jardim de sua vizinha e tê-la colocado no vaso, linda e juvenil. Olhou pela janela. Seria muita cara de pau buscar outra flor no jardim alheio. Foi caminhando em direção à porta, hesitante. Parecia estar esquecendo de mais alguma coisa. Estava vestindo uma camisa esquisita, que não era exatamente sua. Ficou um pouco surpresa. O sono deve ter sido realmente muito pesado. Sorriu. A noite certamente foi boa. Sentou-se na sala, disposta a lembrar o quê tinha acontecido. Foi quando notou um porta-retrato novo em cima da mesa. Era de um senhor grisalho, de ótima aparência. Achou-o parecido com alguém, mas não sabia dizer quem. Sua mãe deveria conhecê-lo. Ou seu pai. Perguntaria a eles depois. Colocou o porta-retrato no lugar. Havia um envelope ao lado. Resolveu abri-lo. A carta já estava rasgadinha na borda. Alguém já o devia ter aberto. Por um momento, hesitou em ler o que estava escrito. Puxou a carta, mesmo assim. Seu nome aparecia como destinatário. Aparentemente, um exame de laboratório. Não sabia ao certo. Muitos números juntos. Ao final, uma frase inacreditável: “expectativa de vida em dois dias, dez horas, trinta e quatro minutos e vinte e um segundos”. Só poderia ser uma piada. Olhou a data. Primeiro de abril de dois mil e setenta e nove. Claro que era uma piada. Por curiosidade, olhou o relógio. Eram dez e quatorze da manhã. Deu uma gargalhada nervosa. Devia ser obra de seu irmão. Ele adora fazer piada com todos. Decidiu ir até a floricultura. Se tivesse sorte, poderia voltar com uma nova rosa antes de sua mãe chegar do trabalho. Subiu as escadas até o quarto. Estava ofegante. Abriu o armário. Procurou uma calça jeans, mas não encontrava nenhuma. Talvez estivessem para lavar. Pegou um vestido qualquer e colocou-se diante do espelho. Levou um susto. Quase morreu do coração. Não reconhecia seu próprio rosto. Será que havia trocado de corpo com alguém? Será que seus óculos estavam assim tão sujos? Aproximou-se do espelho. Reconheceu seu olhar. De repente, um nó na garganta e uma vontade súbita de chorar. Emocionou-se. Estava velha. Sua pele não possuía mais o viço de antes. Deu-se conta que o corpo também não era o mesmo. Colocou o vestido, mesmo assim. Perfumou-se. Passou batom. Pôs seus brincos de brilhantes, uma pulseira de ouro e diversos anéis, dos quais gostava. Não se conformava por não ter percebido antes. Por não ter feito aquela viagem naquele ano. Por não ter dito aquilo que queria em certa ocasião. Por não ter feito aquilo que desejava fazer em um determinado dia. Às dez e trinta e quatro morreu, sentada na poltrona de seu quarto, em frente à janela. Estava abraçada àquele porta-retrato, cuja fotografia antes não havia reconhecido. Seus últimos pensamentos foram doces. Estava contente por ter lembrado do único e grande amor de sua vida. Daquele senhor simpático e grisalho. Dos filhos que tiveram. Dos episódios tristes e alegres. De sua felicidade grandiosa juntos. E de seu anseio em juntar-se a ele, algum dia, entre as nuvens brancas do céu e o negro infinito do universo.

segunda-feira, março 26, 2007

A caderneta

Sou pequena
mas minhas asas flutuam
leves e infinitas.
Minha pele
reflete o céu azul.
E meus cabelos
escondem as estrelas
de todo o universo.
Rabisco em seu caderno
pois desejo o teu beijo.
Seja o que for, de certo,
meus lábios cereja
tão somente desejam
repousar nos seus
há de eterno.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

E.T. phone home

Trago em mim cravadas as flechas da saudade, os rasgos da falta de comunicação e os estilhaços deixados pela distância. Rogo a Deus que na sabedoria da sua bondade, lago magnífico por onde se contempla o infinito, uma migalha de afeto seja derrubada em meu pobre leito, uma gota de alívio seja soprada em minha chaga. Não quero ser o peso que a passagem do tempo torna insuportável aos ombros de quem amo. Não quero receber o sorriso da conveniência. Repilo sua frieza e despotismo. Quero apenas repousar o meu amor feito singelo passarinho na gaiola feminina do seu corpo macio e repleto de luz. Quero deixar em você o jorro veranil e ejaculatório da minha seiva apaixonada. Quero torná-la musa penetrada da alcova em que minha masculinidade ereta debate-se na solidão.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Sapatinho de cristal

Desculpe-me se quero fazer planos. Desculpe-me se, às vezes, é importante pensar na possibilidade de construir a vida. Desculpe-me se não lhe é importante imaginar que podemos elaborar uma estratégia para fazer aquela viagem. Desculpe-me se não lhe parece atraente querer fazer coisas que não são exequíveis a curto prazo. Desculpe-me por não ser pragmática de maneira satisfatória. Desculpe-me por parecer superficial às vezes. Desculpe-me se quis arrancar de você uma iniciativa para mudar as coisas. Desculpe-me pela recusa em ver apenas o "agora". Desculpe-me se o remédio que encontrei para esquecer das coisas é pensar nas possibilidades do futuro, mesmo que elas se resumam a devaneios bobos sobre a casa ideal, o melhor jardim ou o destino mais cotado para a lua-de-mel. Desculpe-me por ser infantil às vezes. Desculpe-me se meus sonhos de menina o perturbam. Desculpe-me por não conseguir me expressar adequadamente quando estou chateada. Desculpe-me pelas agressões verbais infundadas. Desculpe-me pelas brigas desnecessárias. Desculpe-me por não ter sido madura algumas vezes. Desculpe-me por não ser forte o suficiente. Desculpe-me por não ser delicada. Desculpe-me por ser muito passional e impulsiva. Desculpe-me por parecer fria e distante. Desculpe-me pelas contradições que moram dentro de mim. Desculpe-me por esperar, às vezes, que você aja como um príncipe encantado. Desculpe-me se não consigo racionalizar constantemente meu complexo de Cinderela. Mais do que isso, desculpe-me pelo silêncio. E pela vontade incessante e irresistível de sonhar acordada, esperando pelo "...e viveram felizes para sempre".

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Inércia

Você acorda, os olhos inchados. O sol lá fora até parece alentador. Você até ensaia um sorriso, mas suas forças se esgotam instantaneamente. A vontade de sair da cama é enorme, mas os músculos estão imóveis, pesados, como se o colchão fosse um grande ímã atraindo seu corpo dócil de forma intensa e constante. Você respira fundo. Move um braço. Deita de lado. Com um esforço tremendo, empurra o colchão. Você finalmente consegue sentar-se. Respira novamente. Seu pulmão parece estar cheio d'água. A vontade de deitar novamente é irresistível, mas você levanta. Caminha a passos lentos até a pia. Lava o rosto. Toma café. Não ousa se encostar em nada. Faz tudo praticamente de pé e às pressas, para enganar o sono. Escova os dentes. A escova parece pesar cem quilos. Coloca roupa. Empaca no corredor e tem uma visão do seu dia: da cama para a cadeira, da cadeira para outra cadeira, da cadeira para o sofá, e do sofá para a cama. Tudo de maneira arrastada. E os dias vão se passando, até que você acorda: preguiça é um círculo grandiosa e pleonasticamente vicioso.