quarta-feira, fevereiro 28, 2007

E.T. phone home

Trago em mim cravadas as flechas da saudade, os rasgos da falta de comunicação e os estilhaços deixados pela distância. Rogo a Deus que na sabedoria da sua bondade, lago magnífico por onde se contempla o infinito, uma migalha de afeto seja derrubada em meu pobre leito, uma gota de alívio seja soprada em minha chaga. Não quero ser o peso que a passagem do tempo torna insuportável aos ombros de quem amo. Não quero receber o sorriso da conveniência. Repilo sua frieza e despotismo. Quero apenas repousar o meu amor feito singelo passarinho na gaiola feminina do seu corpo macio e repleto de luz. Quero deixar em você o jorro veranil e ejaculatório da minha seiva apaixonada. Quero torná-la musa penetrada da alcova em que minha masculinidade ereta debate-se na solidão.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Sapatinho de cristal

Desculpe-me se quero fazer planos. Desculpe-me se, às vezes, é importante pensar na possibilidade de construir a vida. Desculpe-me se não lhe é importante imaginar que podemos elaborar uma estratégia para fazer aquela viagem. Desculpe-me se não lhe parece atraente querer fazer coisas que não são exequíveis a curto prazo. Desculpe-me por não ser pragmática de maneira satisfatória. Desculpe-me por parecer superficial às vezes. Desculpe-me se quis arrancar de você uma iniciativa para mudar as coisas. Desculpe-me pela recusa em ver apenas o "agora". Desculpe-me se o remédio que encontrei para esquecer das coisas é pensar nas possibilidades do futuro, mesmo que elas se resumam a devaneios bobos sobre a casa ideal, o melhor jardim ou o destino mais cotado para a lua-de-mel. Desculpe-me por ser infantil às vezes. Desculpe-me se meus sonhos de menina o perturbam. Desculpe-me por não conseguir me expressar adequadamente quando estou chateada. Desculpe-me pelas agressões verbais infundadas. Desculpe-me pelas brigas desnecessárias. Desculpe-me por não ter sido madura algumas vezes. Desculpe-me por não ser forte o suficiente. Desculpe-me por não ser delicada. Desculpe-me por ser muito passional e impulsiva. Desculpe-me por parecer fria e distante. Desculpe-me pelas contradições que moram dentro de mim. Desculpe-me por esperar, às vezes, que você aja como um príncipe encantado. Desculpe-me se não consigo racionalizar constantemente meu complexo de Cinderela. Mais do que isso, desculpe-me pelo silêncio. E pela vontade incessante e irresistível de sonhar acordada, esperando pelo "...e viveram felizes para sempre".