domingo, setembro 13, 2009

Sobre formigas e ácaros

O negócio começou cedo. De um lado a formiga, cansada e mau-humorada. De outro, o ácaro, feliz da vida a cantarolar. Ela vinha de semanas de tensão, muitas palavras não-ditas (e malditas), muito rock’n’roll, muita bebida, muito descompromisso, enfim, perdida na vida. Mal sabia de sua condição de himenóptera. Uma total amnésia existencial. Foi quando deu de cara com o ácaro. Ele a chamou de formiga, emendando um glorioso 'bom dia'. Aquilo lhe parecia ultrajante. Como se atrevia o ácaro?? Ela logo o chamou de agente patológico, de aracnídeo mal-resolvido. Ele riu-se inteiro. Gostou dela. Ela, mesmo o achando insuportável, acabou por se render, depois de muitos esforços acarofílicos para combater aquela acarofobia toda. Mas ela deixava bem claro: 'ele é apenas meu fuck buddy, ouviu?!'. O tempo passou. A formiga, encantada com a acarodomácia que produzia a acarofilia entre eles, em seu leito verdejante, passou a corar quando lhe perguntavam sobre o ácaro. Pois bem, meus caros, não há outra verdade, embora a formiga não queira admitir: ela está mesmo apaixonada!!!

sábado, setembro 12, 2009

A canarinha

No fundo, bem lá no fundinho do seu coração, você diz que gosta de futebol só para parecer mais atraente para o sexo oposto. Ou então porque é louca por jogador de futebol (vai dizer que em 2006 não prestou atenção concentrada, em momento algum, nas pernas - e tudo o mais - do Alberto Gilardino?). Se mesmo assim você nega algum desses fatos, comece a considerar a possibilidade de que você joga no time errado. É inegável que os campeonatos regionais não são lá interessantes, ainda mais aqueles fora do eixo Rio-São Paulo. Os campeonatos nacionais, então, mais enrolados impossível. E tem a Copa do Mundo. Ah, a Copa. É quando você sai com aquela camisa da seleção (baby look, claro), coloca fivelinha verde-amarelo nos cabelos e até pinta as unhas de azul e branco. É nesta época que muitas de nós começamos a namorar. Você e suas amigas chegam naquele barzinho que transmitirá o jogo pelo telão, com direito a muita cerveja e diversos petiscos, arrumam uma mesa ao lado daquela recheada de gatinhos. Uma tática infalível, muito mais eficaz que a fantasia verde-amarelo-azul-e-branco, é saber quando e o quê falar sobre o jogo. Não existe homem que não fique doido por uma mulher que saiba do que se trata um impedimento. Que discuta com propriedade sobre a tática 4x4x2 em formato losango. Que identifique a formação de triângulos defensivos, tão característicos da marcação por zona. Que perceba quando o ataque deve ser feito em leque e a defesa em funil. Pois bem, você analisa o meio-de-campo e se coloca estrategicamente ao lado do zagueiro para evitar a marcação indesejada. Você identifica seu objetivo e vai atacando pelos flancos. Por fim, quando você passa bem atrás daquele fofinho lindo irresistível, o lance imperdível está passando na telinha. Ele está ali à sua frente, apreensivo, sem piscar os olhos. Você caminha graciosamente, chega ao lado dele e diz "Se agora já é emocionante, imagine em 1863, quando o sistema tático era 1x1x8... não entendo como eles conseguiam marcar impedimento naquela época!". Pronto. Ele (e você) perderam o gol. Todo mundo à volta pulou, comemorou, e vocês ali, um olhando para o outro. Você com um sorriso maroto. Ele, com a respiração presa e uma expressão de completo espanto. "Estou vendo que torcemos para o mesmo time", você fala para quebrar o gelo e aponta para a canarinha que ele veste, igualzinha à sua (exceto pelo fato de que a sua é baby look). Você dá uma piscada, mais um sorriso e vai para a sua mesa. Ele continua ali parado. O jogo acaba e o Brasil vence. O garçom se aproxima de você, lhe entrega um bilhetinho: "Será que a minha camisa e a sua podem torcer juntas no próximo jogo?". Você dá risada... é gooooooooooool! Depois que a Copa passar (e outras Copas virão), uma certeza: a sua canarinha vai continuar sendo jogada ao chão, em frente à cama, ao lado da dele.

sábado, setembro 05, 2009

Crise crônica insolúvel. Ou não. (como diria Caetano)

Querer explodir. Ficar na cama por horas, de maneira insípida. Sentir fome e ao mesmo tempo desejar não comer nada. Ser indiferente à própria aparência. Querer fazer e não achar fôlego, tampouco força. Lutar com a realidade. Esforçar-se para acordar. Sentir-se cansada depois de doze horas de sono. Querer escutar Bon Jovi. (Acredita?) Estar com tudo e achar que está sem nada. Ter a sensação de que nada faz sentido. Pensar que você pode ter perdido a graça. Dar risada e chorar em compassos de meio minuto. Desejar gritar quando de sua boca só saem grunhidos. Não entender bulhufas do que se passa com você mesmo. Normal. De repente, tomar sorvete. De chocolate. Com muita farofa de castanha de caju, leite condensado e tubetes. A cura de uma TPM é tão misteriosa quanto a própria existência.