quinta-feira, dezembro 30, 2004

Adeus ano velho, Feliz Ano Novo

Seu 2004 se iniciou com algumas mágoas. Com ansiedade. Com esperança desesperançosa. Tentativas de reconciliação improváveis. Mas isso foi efêmero. Houve viagens divertidas. Amigos fiéis e sinceros. Muitas risadas. Peripécias inusitadas. Muitos pilequinhos. Saídas constantes. Carpe diem. Carpe noctem. Tomou chuva na madrugada. Muito Korova. Muito Baba Salim. Muitas leituras alheias em sala de aula. Mesmo assim muitas notas boas. Despedidas. Amigos que vão, amigos que vêm. Choro. Gargalhada. Pessoas interessantes. Viagens programadas em mesa de bar. No intervalo das aulas. No meio do expediente. Nos encontros entre amigos. Namoricos básicos. Festa. Curtição. Muito cinema. Discussões intermináveis sobre o sentido da vida. Muita dança. Feijoada e Zé Pequeno. Paixonites agudas. Tratamento com sucedâneo de paixão violenta. Calafrios e náuseas. Risadas nervosas. Show disso, show daquilo. Reencontros. Amigos do passado. Amigos novos. Seu ano terminou inebriante. Quando tudo ficava na mesmice, um raio. A chuva. A noite. Novidades singulares. Inesperadas. Renovação da esperança. Cenas de filme. Diálogos de filme. Celebração. Novas despedidas. Amigos queridos. Reuniões. Felicidade. Desilusão. Emoções à flor da pele. Espera. Tempo. Bênçãos. Amor. Vida. Sentiu que viveu neste ano. Viveu com gosto, viveu com a alma. Teve seus amigos e sua família ao seu lado. Cercou-se de coisas bonitas, de momentos inesquecíveis, de acontecimentos inesperados, de pessoas amadas. Este ano marcou-se pelo aprendizado. Aprendeu sobre a vida. E vivê-la-á da melhor forma possível. E, para não perder o costume, releu as sábias e doces palavras do magistral poeta de Itabira que ilumina os corações...

Receita de ano novo
(Carlos Drummond de Andrade)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Sentimentos de última hora de férias de final de ano

As coisas que deixamos para fazer antes que o ano acabe não raro deveriam ser as primeiras escolhidas. Desta vez, deixei para ter saudades por último, deixei o ciúmes paranóico para agora, deixei para sentir no final.

No final, quando não dá mais para consertar. Pelo menos, não tão cedo. Agora fico aqui, tal qual um torcedor de um time qualquer de futebol que espera que os outros times percam, para que assim o seu se classifique. Tal qual a esperança misturada com a desesperança. Tal qual aquele que não se conhece o suficiente.

Mas, um por um os dias passarão e um por um os sentimentos de última hora de férias de final de ano se alinharão. E aí, não será mais final de ano. E aí, poderei começar do zero.

Mas, antes que todos fiquemos esperançosos, resoluções de Ano Novo não consertam nada, não desfazem errados. Resoluções de Ano Novo não desembaraçam pensamentos. Hum, será que se eu tivesse pedido pro Papai Noel...

Ps: Enquanto isso, que Buenos Aires possa conosco!

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Peace of mind – don’t assign me yours

A cabeça dá voltas. O tempo pára, de maneira retrógrada. Você custa a acreditar. Você não quer acreditar. Exatos dois meses atrás a vida virava de pernas para o ar. Maravilhosa e intensamente. No instante em que se fez exatos dois meses tudo ruía. O sonho de um abraço tornou-se um beijo gelado em uma boca qualquer. Os olhos olharam retinas estranhas. A pele sentiu o calor alheio. Não há porquês razoáveis. Há apenas o egoísmo. Falta de consciência. Falta de respeito por algo que se dizia sublime. E o símbolo daquilo estampado no peito. Contudo, esqueceu-se. Você sabia que algo assim aconteceria. Mesmo assim, você foi. Indo, encontrou amigos. Você foi avisado do que seria um erro. Mesmo assim, insistiu. Fez. Você pensou nisto no outro dia. Silenciou. Preferiu não se abrir. Preferiu que outras vozes dissessem. Você foi covarde. Você optou pela irracionalidade quando precisava pôr os pés no chão. Você pirou. Enfureceu-se. Fez besteira. Ao menor sinal de sofrimento. Isso significa uma coisa ou outra. Mas significa também que você optou pelo não-sentimento. Sim, você foi covarde. Você não quis enfrentar os fantasmas. Quis extravasar. Só que acabou rachando o cristal precioso. Agora está ali, estático. Nada faz. Permanece na inércia. Se o que sente é sublime, não sei do que chamar a desesperança. E os minutos da vida passam por aí. E, como diria Nietzsche, abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos.


"You don't tell me things, Joel. I'm an open book. I tell you everything, every damn, embarrassing thing." (Clementine IN Eternal Sunshine of the spotless mind)

terça-feira, dezembro 21, 2004

Mais um post sobre nada...

Estou menstruada. Muito.
Como li em algum lugar que já não lembro, estou menstruada até o último fio de cabelo.
Acho que foi daí que eu tirei de pintar a unha de vermelho-sangue.

sábado, dezembro 18, 2004

Sobre o meu processo criativo OU Esclarecimentos OU AINDA Whatever, who cares anyway?

Tenho mania de primeira pessoa, admito, o que não significa, necessariamente, que o assunto seja eu.

Quase nunca me faço enteder, é provável, portanto, esclareço que rascunho sobre coisas presentes que se tornaram passado, coisas futuras que nunca se realizarão, coisas que só exitem e fazem sentido em minha cabeça.

Publico sobre o que acontece comigo, com minhas amigas, falo sobre a gente que vive, ama e respira em outros lares que não os que conheço.

Tenho pretensões, ilusões, acho que posso falar do que não sinto. Esperançosa, acredito que talvez, com o tempo, possa chegar a escrever.

domingo, dezembro 12, 2004

A fila anda...

Eu escolho homens errados. Eu me auto saboto. Quem aí pode dizer o contrário? Mesmo com a certeza de que somos incompatíveis, inicio. Mesmo sabendo que o relacionamento não tem futuro, insisto. E quando termina, quero entender.

Devo me resignar ao fato de que nunca entenderei o que se passa na cabeça deles? Talvez deveria me resignar ao fato de que nunca entenderei o que se passa na minha.

Me dizem que a fila anda, mas para onde ela vai?

terça-feira, dezembro 07, 2004

O Espelho

Olha bem para o espelho. Aquela ruguinha aparece insistente, a cor do cabelo pálida, a roupa que você queria colocar está lavando, o pé está todo machucado, as unhas quebradiças, a pele oleosa e os olhos enfeitados com olheiras de muitas noites sem dormir. Você dorme em pé, sentada, encostada, desconfortável, em qualquer lugar. O estado sinestésico parece permanente. Ouve a cor da face pálida, sente o som do estômago nauseado, vê o gosto de remédio na boca, cheira a aspereza das mãos. A chuva cai lá fora. Você sai, ouvindo o calor interno, e sente as primeiras gotas escorrerem pela cabeça. A sensação da tempestade desanuvia a condição de languidez. Você não é um conceito. Você não tem que completar o vazio de ninguém. Você não é aquela imagem desalentadora. Você é apenas uma garota prostrada que está tentando achar sua própria paz de espírito.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Meu Esquema

Mesmo sapato, mesma saia, mesma blusa, mesma jaqueta.
Mesma pulseira, mesmo relógio, mesmo brinco.
Mesmo cabelo, mesma maquiagem, mesma cor de esmalte.
Mesmos amigos, mesmas bebidas, mesmo bar.

Mas hoje não vai ter nada além destes mesmos na minha noite. Hoje, eu volto pra casa com o sol.