terça-feira, junho 09, 2015

A esperança

Espero pelo dia
em que, juntos, mergulharemos
nesse mar revolto e enigmático
que, dizem, chama-se amor
E, no movimento gentil das ondas,
repetidamente
deixar-nos arrebatar, corpo e alma
livres, leves e soltos
longe de qualquer temor.

quarta-feira, abril 08, 2015

O depois

A chuva chora tua ausência
enquanto meu coração pulsa doloroso
A lua hoje não espera nada
porque tudo aquilo
aquela aurora cósmica e infinita
aquele momento de pura redenção 
sequer jamais existiu
Seus lábios, repletos de beijos,
e seus quadris generosos
são apenas fábulas inebriantes 
que o sol, a cada manhã,
devora com boca abrasadora
e, sem dó, 
abandona o dia pálido
aos sortilégios de um outono
sombrio e cálido
... vigorosamente cálido.

quarta-feira, março 11, 2015

Sobre reciprocidade selvagem

Queria entrar no mundo que era dele e despi-lo -- peça por peça, máscara por máscara -- até que fosse possível tocar a essência que antevia nele. Queria-o nu, no sentido mais amplo que essa palavra pudesse significar. Queria-o por completo: o bom, o ruim, o morno; o iluminado, o sombrio e todos os tons de gris nos entremeios. Não havia absolutamente nada nele que não desejasse conhecer a fundo, em que não desejasse se refestelar. Queria, alfim, a redenção. E quando a obtivesse, deixaria ele a despir como bem entendesse. Render-se-ia. Completa e irremediavelmente.

terça-feira, outubro 01, 2013

A entrega

Estava ela na beirada da cachoeira, tremendo pavorosamente. Olhou então para a piscina azul que se formava logo abaixo de seus pés e de repente aquietou-se ao fitar os olhos dele. "Jogue-se que eu te seguro, meu bem. Sou seu homem. Não tenha medo. Não há mais medo, tampouco decepção. Há apenas a certeza de que eu vou segurá-la", disse ele de braços abertos. "Jogue-se. E venha me fazer o mais feliz dos mortais...", voltou ele a dizer, abrindo-lhe um de seus belos sorrisos. Ela obedeceu. Nunca se sentira tão feliz e completa: uma mulher de verdade.


terça-feira, setembro 17, 2013

Bem-me-quer, mal-estar

Nauseada e irrequieta, não conseguia se concentrar em absolutamente nada. Ficava apenas imóvel, ouvindo os ruídos constrangedores que seu estômago fazia. Tremia continuamente, a ponto de não ser capaz de firmar o livro em suas mãos delicadas. Baixando-o na mesa, esticou os braços por cima das páginas amareladas e passou a examinar, debaixo da pele peculiarmente alva, as veias que saltavam visíveis aos olhos. "Sou transparente", pensou. Começou a brincar de bem-me-quer, contando os riscos azuis no antebraço esquerdo. Sua indisposição piorou quando terminou a contagem no malmequer. Incluiu, então, a mão esquerda: final feliz. Ironicamente, ao invés de melhorar o mal-estar, ficou ainda mais ansiosa: seria verdade? Será que bem-me-quer?? Oh, dúvida cruel...

segunda-feira, julho 08, 2013

Ela, a espuma de algum dia, Dumpty e Ellington

A toca do Coelho era logo ali e Alice finalmente decidiu atravessar o espelho. Pronta, mergulhou em um mar de flores e bolhas de sabão. As nuvens rodeavam seus cabelos e molhavam seus lábios rosados. As penas dos pássaros voavam imersas em águas calmas e mornas. O ar estava perfumado com o sabor de uma deliciosa tunenguia, caçada na torneira de um apartamento qualquer em Paris.
"Esqueça as instituições falidas... o Estado, o trabalho, o sistema monetário e a sociedade escravequivocada", dizia Humpty a ela.
"Desse lado há apenas as coisas que interessam", murmurou Duke em seu ouvido depois de beijá-la. "As coisas que mudam as pessoas".
"Agora compreendo e já sei", enrubesceu Alice: "o amor -- sob todas as formas -- e o jazz".


sábado, junho 01, 2013

Do poço às estrelas: a liberdade OR I finally saw right through you


É tão revigorante o desprezo
Tão inebriante o desdém
Tão extasiante a indiferença,
essa indiferença pura e completa que sinto.

Liberdade, enfim, deu-me asas
asas belas, enormes, brancas e brilhantes.
As amarras que me prendiam ao chão
finalmente ficaram no passado,
onde pertencem mortas e insignificantes.

Não há mais mentiras deslavadas,
não há mais teatro de máscaras.

Dou adeus à ilusão do Narciso ardil,
do rosto sem identidade,
do indivíduo de superego frágil,
desconectado de afetos,
separado do conteúdo da experiência.

Despeço-me dos embustes do adolescente vazio,
do ser incompleto,
inseguro,
reprimido,
e mimético.

É tão doce ver-se livre
Tão ditoso amadurar-se
Tão sereno me sentir de novo inteira,
essa inteireza plena, de essência,
deliciosamente libertadora.

domingo, maio 26, 2013

Escatologia

Meu intestino nunca funcionou tão bem. Depois que um grande merda foi embora da minha vida, todas as merdas que se formam dentro de mim todos os dias fogem desesperadas para se unirem a ele, em meio à pocilga do quinto dos infernos.

segunda-feira, maio 06, 2013

Seiya de Pégaso em Ômega, a iluminação e o fundo da superfície nas alturas

A última palavra
Não sei bem qual foi
Se minha ou sua
Deixemos isso para depois.

Bem no fundo do poço
Para acolá do abandono
O que vejo aqui são as estrelas
Da constelação de Manigoldo.

Cá embaixo esteve Daniel
Como agora também estou
Os leões me reverenciam
E o Absoluto me iluminou.

Somos deuses que criam
Você não viu as estrelas daqui
O que sentimos não é vazio
É a plenitude desafiando o tempo em si.

Você escolheu a via negativa
O porquê agora foge a mim
Sei apenas que nas alturas
Guardas-me um ramo de jasmins.

Se junto comigo estão as estrelas, céu, terra e tudo
Junto contigo estão tudo, terra, céu e as estrelas
E o tilintar da vida é simples, perfeito
Em harmonia com a paz eterna

Quero então buscar o encontro contigo
A simultaneidade original
Realizar a nós que somos um
Em sintonia cósmico-paradoxal.

Você diz que esse abismo
É um mundo novo a conhecer
Mostrar-se-ia, com isso, o fundo
Far-me-ia, pois, compreender.

Minha maior alegria, no entanto
É brincar e brincar com você
Passear por esses mundos
Fazer você, meu amor, crescer!

quinta-feira, maio 02, 2013

A verdadeira aliança

Agora tão longe de você sinto-me mais perto que nunca. Sinto suas dores, ouço seus suspiros, vejo suas feridas e respiro seus fantasmas. Enxergo sua fragilidade emocional em todas as cores. E jamais te amei tanto.
Agora tão longe de você sinto-me mais perto que nunca. Sinto sua doçura oculta, ouço suas canções, vejo o azul da sua alma e respiro sua vontade desesperada de se tornar alguém inteiro. E jamais te amei tanto.
Agora tão longe de você sinto-me mais perto que nunca. Queria pegar em suas mãos e fazê-lo sentir a beleza da vida e a felicidade perene que só encontramos dentro de nós mesmos. Queria tocar sua pele fragmentada e reestruturar sua sensação de integridade. Queria olhar em seus olhos e fitar a sua alma, enquanto você desnuda a minha. Queria enfim apenas te amar pelo que você é, como amo a mim mesmo, como o amor deve ser.
E então que você poderia ser toda esta complexidade de sentimentos, significados e valores. E então que você descobriria o seu verdadeiro self. E então que você se sentiria livre para me dar o amor, a raiva e a ternura que existem em você com espontaneidade e sem medos. E então que você viria a ser um participante real de uma união, porque estaria em vias de ser uma pessoa real. De se revelar e de remover suas máscaras. De encontrar a sua essência e a sua verdade. De simplesmente ser. E então que eu também lhe daria isto. E então que incentivaríamos um ao outro a seguir o caminho na direção de uma personalidade única, da nossa individuação, de que partilharíamos por escolha. E finalmente então que deveras eu te amaria e você me amaria. Tão longe e tão perto. Para sempre.

sábado, abril 27, 2013

Dos quatro cantos de mim

Vá vento...
Leva até ele meu coração
Faça-o sentir o calor incessante
Que vem do meu peito, das minhas entranhas, da minha alma.
Vá lua...
Leva até ele a luz do meu sorriso
Que mostra meu encanto, desnuda meus desejos, revela o que sou e o que posso vir a ser.
Vá tempo...
Leva até ele o meu abraço infinito, o meu carinho sem fim, os meus cabelos perfumados.
Vá mar...
Leva até ele a minha mensagem de amor, minha esperança de vida, meu tudo e meu nada.
De todos, peço ao mar azul, mar intenso, mar pacífico que vá depressa...
Mar é você dentre todos a quem escolhi para carregar até ele o que de mais precioso possuo: minhas palavras devotas, sofridas, sinceras, a expressão máxima do meu espírito livre.
Mar é você que dirá a ele as palavras não-ditas até hoje: amo, amo, como eu amo e te quero a mim e me faço sua.

terça-feira, maio 24, 2011

Pedaços de ti

Um sono tranquilo embalou a noite. Sensação de seus dedos quentes a se entrelaçarem com meus cabelos. Sua voz suave a me acalentar. Aquece-me a idéia de que você conheça as peças de meu quebra-cabeça. É como se você me conhecesse melhor do que eu a mim mesma. Você antecipa minhas falas. E se tudo está escrito em minha testa, espero que a brisa sempre esteja presente. Pois parece que finalmente posso descansar minha cabeça em algo real. Pois a fronteira fica para trás, mas o caminho depende de nós. Pois adoro como você pode entender todos os meus pedaços. Quero entender os seus. Apenas permita-me.

quarta-feira, maio 18, 2011

Ao acaso do destino

Parecia-lhe incrível como todos os clichês eram adequados ao falar do amor que sentia. Da escolha que fez. Da viagem que decidiu iniciar. Tinha em si um mapa indecifrável. Sonhos que julgava inalcançáveis. Ideais supostamente inexistentes. Isso tudo pareceu-lhe inóspito quando encontrou o acaso de um olhar. Vertigem. Ainda são os olhos. Olhos que dão movimento, mesmo que a estática seja permanente. Que são cúmplices. Que praticam o jogo da reciprocidade. Passou a encantar-se com os raciocínios que surgiam de conversas despretensiosas. Das palavras. Da metalinguagem. Dos olhos que construíram uma forma singular de comunicação. Que enxergam o nada e o tudo. Independentes, mas superlativamente unidos. Por ideais. Sonhos. Desejos. Convicções. Propósitos. Escolhas. Compromisso. Olhares que subvertem o tempo. Que tornam hoje o amanhã que o ontem desejou.

segunda-feira, maio 09, 2011

Ausência

Os dias passaram, esqueci.
Outros rostos passaram, eu os vi.
Meu sorriso se encantou deles
Meus olhos cintilaram em retribuição
Olharam-me e me pediram
Ama-te tua falta de amar
Ama-te essa aridez tua
O amor tácito
O gesto subentendido
O beijo implícito
E o desejo incontrolável.

quinta-feira, maio 05, 2011

O espelho tem faces / Pieces of me

Tenho cabelos castanhos
minha pele é branca e sensível
meu nariz é como o do meu pai
e meus olhos como os de minha mãe.
Meus lábios estão geralmente sorrindo
minhas unhas quebram facilmente
sou sonhadora desde criança
e escrevo quando preciso me encontrar.
Tomo chuva de vez em quando.
Já tive crises de amidalite horríveis.
Costumava soprar dentes-de-leão no jardim.
Gosto do paladar do gengibre
da cor do oceano
e do cheiro do jasmim.
Já fiz loucuras, já tive paixões mal-resolvidas
já fui infiel em relacionamentos, já menti e errei
já amei em segredo, já amei sem medidas
já levei alguns foras, mas também já os dei.
Arrependo-me só do que deixei de fazer
ou do que não pude dizer e queria.
Não tenho mais minhas amídalas.
Mas meus cabelos continuam castanhos
minha pele ainda é sensível
minhas unhas ainda quebram
e provavelmente um dia não vou mais gostar
de tomar chuva
de sentir o cheiro do jasmim
ou o gosto do gengibre.
Mas talvez eu comece a soprar dentes-de-leão novamente...

segunda-feira, maio 02, 2011

A Chuva

Tão saborosa é a chuva quando o corpo está aquecido do calor do sol; as gotas escorrem pela pele, produzindo uma sensação de liberdade, de desapego, que devolve a alma às forças universais.
Tão dolorosa é a chuva quando o corpo está gelado da escuridão da noite; as gotas escorrem pela pele, produzindo uma sensação ainda maior de vazio, de dependência, aprisionando a alma aos devaneios mundanos.
Tão inesquecível é o amor, que dá luz ao dia e ilumina nosso espírito; suas brasas são incendiárias e suas chamas inexauríveis.
Tão devagar é o esquecimento, que arrasta o minuto dos dias e faz da angústia o cotidiano.
Tão platônico é o meu desejo de tê-lo como sol e ver a chuva chegar, porquanto a maior liberdade que um coração pode alcançar é estar preso àquilo que chamamos de amor verdadeiro.

segunda-feira, abril 25, 2011

Enfim, a Liberdade

Ainda que não esteja, está distante;
Ainda que não ligue, está ocupado;
Ainda que não diga nada, está mudo;
Ainda que não queira uma vez mais, está desinteressado;
Ainda que peça que permaneça, está carente;
Ainda que queira agora ou nunca, quem sabe hoje e sempre;
Mesmo assim e o tempo todo, você me libertou.
Meu coração está mergulhado nas águas límpidas e sedutoras da paixão, causando calafrios e devaneios constantes, lançando-me à irresistível sensação de que tudo é belo nesta vida, e me devolvendo a certeza de que tudo tem seu tempo, certo e improrrogável.

segunda-feira, abril 18, 2011

Borboletas no estômago

Fico nervosa em pensar. Quero prestar atenção à minha volta. Não dá. Continuo. Tento. A voz insistente invade aquilo que escrevo. Percebo a agradabilidade em esquecer um pouco. O nervosismo parece disfarçar-se. Um gesto, outro. Aquela palavra. Lembrei-me novamente. Por que a paixão faz isso, afinal? Só a tua presença acalma o tempo nervoso. Todo o instante em meio a isso é desalentador.

quarta-feira, abril 13, 2011

Encontre-me em você / Meet me in Montauk

Estou dentro de mim
que está dentro de você
que não vai a lugar algum
apesar de fugir constantemente.
Busquei um esconderijo seguro
e estava me iludindo bem o suficiente
até que você me achou.
Você sempre me acha.
Pensei que pudesse te enganar
e me enganar
e fingir que havia lhe apagado
para sempre da minha mente.
Mas ilusão ainda é sinônimo para engano.
Achei que era possível.
Acreditei.
Mas a verdade é que
no momento em que se dá conta do estrago
é tarde demais
e a chance escapa pelos dedos.
A felicidade era tão simples
e ambos insistiram em complicar.
A felicidade está em nossas mãos
e a descartamos
por puro desconhecimento da vida.
Ignorância.
E voltamos a machucar o coração
que parece buscar estar vazio
ou esvaziar-se.
Com promessas falsas.
Ilusões mundanas.
A fonte de todas as nossas dores.
Ou quem sabe ludibriar-me-ia
com a doce escusa do poeta
para tão odioso comportamento.
Escusa que parece servir como uma luva
para casos de cinismo desvairado:
"É tão curto o amor, e tão longo o esquecimento."*


* frase de Pablo Neruda