terça-feira, outubro 30, 2007

O amor e a incompreensão

No começo, tudo é mil maravilhas. Vocês entendem todos os suspiros, todos os olhares e todos os gestos um do outro. É incrível a compreensão que vocês têm, considerando-se que a cada coisa não-dita há dez beijos e uma troca de olhares profunda, sem piscar os olhos. Até que vocês precisam trocar palavras. E não palavras não-ditas, que vocês inconscientemente balbuciavam de forma incompreensível em meio aos suspiros, gestos e olhares. Palavras únicas e fortes. Você diz uma, ele responde com outra e tudo parece estar indo bem. Até que vocês precisam trocar frases. E não frases com palavras soltas, embora marcantes, como aquelas que vocês utilizaram em meio aos gestos, olhares e suspiros. Frases que façam sentido, que possam ser absorvidas pelo ser amado. Você fala algo, ele responde, você fala novamente e ele concorda, ou vice-versa. Até que vocês precisam argumentar um com o outro. Agora não basta dizer uma frase apenas, é preciso dizer muitas e com o devido fundamento ideológico. Você se expressa, ele não entende, você elabora, ele não compreende, você disserta, ele perde a paciência, ou vice-versa. Os suspiros são substituídos pelas bufaradas, os gestos pelos sinais de desacato e os beijos pelas provocações. Até que alguém ache que isso é pura incompatibilidade de gênios. Mas isso também pode ser amor ardente. E verdadeiro. Amor perdido em meio à linguagem, a grande fonte dos desentendimentos.