terça-feira, maio 24, 2011

Pedaços de ti

Um sono tranquilo embalou a noite. Sensação de seus dedos quentes a se entrelaçarem com meus cabelos. Sua voz suave a me acalentar. Aquece-me a idéia de que você conheça as peças de meu quebra-cabeça. É como se você me conhecesse melhor do que eu a mim mesma. Você antecipa minhas falas. E se tudo está escrito em minha testa, espero que a brisa sempre esteja presente. Pois parece que finalmente posso descansar minha cabeça em algo real. Pois a fronteira fica para trás, mas o caminho depende de nós. Pois adoro como você pode entender todos os meus pedaços. Quero entender os seus. Apenas permita-me.

quarta-feira, maio 18, 2011

Ao acaso do destino

Parecia-lhe incrível como todos os clichês eram adequados ao falar do amor que sentia. Da escolha que fez. Da viagem que decidiu iniciar. Tinha em si um mapa indecifrável. Sonhos que julgava inalcançáveis. Ideais supostamente inexistentes. Isso tudo pareceu-lhe inóspito quando encontrou o acaso de um olhar. Vertigem. Ainda são os olhos. Olhos que dão movimento, mesmo que a estática seja permanente. Que são cúmplices. Que praticam o jogo da reciprocidade. Passou a encantar-se com os raciocínios que surgiam de conversas despretensiosas. Das palavras. Da metalinguagem. Dos olhos que construíram uma forma singular de comunicação. Que enxergam o nada e o tudo. Independentes, mas superlativamente unidos. Por ideais. Sonhos. Desejos. Convicções. Propósitos. Escolhas. Compromisso. Olhares que subvertem o tempo. Que tornam hoje o amanhã que o ontem desejou.

segunda-feira, maio 09, 2011

Ausência

Os dias passaram, esqueci.
Outros rostos passaram, eu os vi.
Meu sorriso se encantou deles
Meus olhos cintilaram em retribuição
Olharam-me e me pediram
Ama-te tua falta de amar
Ama-te essa aridez tua
O amor tácito
O gesto subentendido
O beijo implícito
E o desejo incontrolável.

quinta-feira, maio 05, 2011

O espelho tem faces / Pieces of me

Tenho cabelos castanhos
minha pele é branca e sensível
meu nariz é como o do meu pai
e meus olhos como os de minha mãe.
Meus lábios estão geralmente sorrindo
minhas unhas quebram facilmente
sou sonhadora desde criança
e escrevo quando preciso me encontrar.
Tomo chuva de vez em quando.
Já tive crises de amidalite horríveis.
Costumava soprar dentes-de-leão no jardim.
Gosto do paladar do gengibre
da cor do oceano
e do cheiro do jasmim.
Já fiz loucuras, já tive paixões mal-resolvidas
já fui infiel em relacionamentos, já menti e errei
já amei em segredo, já amei sem medidas
já levei alguns foras, mas também já os dei.
Arrependo-me só do que deixei de fazer
ou do que não pude dizer e queria.
Não tenho mais minhas amídalas.
Mas meus cabelos continuam castanhos
minha pele ainda é sensível
minhas unhas ainda quebram
e provavelmente um dia não vou mais gostar
de tomar chuva
de sentir o cheiro do jasmim
ou o gosto do gengibre.
Mas talvez eu comece a soprar dentes-de-leão novamente...

segunda-feira, maio 02, 2011

A Chuva

Tão saborosa é a chuva quando o corpo está aquecido do calor do sol; as gotas escorrem pela pele, produzindo uma sensação de liberdade, de desapego, que devolve a alma às forças universais.
Tão dolorosa é a chuva quando o corpo está gelado da escuridão da noite; as gotas escorrem pela pele, produzindo uma sensação ainda maior de vazio, de dependência, aprisionando a alma aos devaneios mundanos.
Tão inesquecível é o amor, que dá luz ao dia e ilumina nosso espírito; suas brasas são incendiárias e suas chamas inexauríveis.
Tão devagar é o esquecimento, que arrasta o minuto dos dias e faz da angústia o cotidiano.
Tão platônico é o meu desejo de tê-lo como sol e ver a chuva chegar, porquanto a maior liberdade que um coração pode alcançar é estar preso àquilo que chamamos de amor verdadeiro.