terça-feira, dezembro 07, 2004

O Espelho

Olha bem para o espelho. Aquela ruguinha aparece insistente, a cor do cabelo pálida, a roupa que você queria colocar está lavando, o pé está todo machucado, as unhas quebradiças, a pele oleosa e os olhos enfeitados com olheiras de muitas noites sem dormir. Você dorme em pé, sentada, encostada, desconfortável, em qualquer lugar. O estado sinestésico parece permanente. Ouve a cor da face pálida, sente o som do estômago nauseado, vê o gosto de remédio na boca, cheira a aspereza das mãos. A chuva cai lá fora. Você sai, ouvindo o calor interno, e sente as primeiras gotas escorrerem pela cabeça. A sensação da tempestade desanuvia a condição de languidez. Você não é um conceito. Você não tem que completar o vazio de ninguém. Você não é aquela imagem desalentadora. Você é apenas uma garota prostrada que está tentando achar sua própria paz de espírito.

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