sábado, outubro 30, 2004

Impressões

Tenho a impressão que acabo de deixar a LETi em casa. Tenho a impressão que bebi demais. Tenho a impressão que a minha pergunta ficou sem resposta. Tenho a impressão que a Chapeuzinho Vermelho ficou sem o Lobo Mau. Tenho a impressão que fui ao hospital, mas a paciente não era eu. Tenho a impressão que o que prometo quando bebo, continua valendo. Tenho a impressão que minto às vezes. E muito bem.

Tenho impressão que quando voltava pra casa, tocava uma música, de uma banda que eu não gosto particularmente, mas tenho a impressão que gostei da letra.

"Hold me now and say it´s not forever
´Cause maybe someday in time
Things will go my way"

PS: Este post foi escrito no dia 29/10/2004, lá pelas cinco horas da manhã, após voltar de uma festa a fantasia. Como a *Fer* tinha acabado de publicar um post, reservei-o pra agora. Não mudei uma vírgula, está exatamente como foi escrito.

terça-feira, outubro 26, 2004

Diagnóstico: Portadora da Síndrome da Monguice Aguda

Sintomas:

A síndrome monguiana é constituída por 8 elementos principais, que podem ser observados quando o paciente chega perto do objeto de desejo: boca seca; vermelhidão das faces; língua presa; desvio de olhar; repentina incapacidade de fazer qualquer tipo de comentário inteligente; mudança no comportamento; perda relativa da racionalidade e taquicardia.

Vários outros sinais clínicos e sintomas podem ocorrer, como alterações na escrita e na marcha. Portanto, diferenciar a doença da Monguice Aguda das outras enfermidades ou situações que produzem a síndrome, tais quais a timidez e a frescura, nem sempre é fácil. Muitas vezes, é preciso observar o paciente por um longo tempo para se ter convicção do diagnóstico, até porque ainda não existem exames laboratoriais que possam confirmá-lo.

Estudo de Caso:

Identificação: _Me_, 20 anos, fem, branca, estudante, solteira, cebolita.
Queixa e duração: apresenta boca seca, vermelhidão das faces, desvio de olhar e taquicardia. Os sintomas estão ocorrendo desde que topou pela primeira vez com o objeto de desejo a cerca de um mês e meio.
História da doença atual: Paciente alega que há aproximadamente um mês e meio passou a apresentar os referidos sintomas quando se encontrava sentada em uma mesa de bar e o referido objeto passou a dirigir-lhe olhares. A paciente, que gostaria de ter retribuído tais olhares, foi vencida pela doença e desviou o olhar para a direção oposta. Ao ver removido o objeto de desejo, a paciente apresentou melhora.

Porém, relata que semana passada estava passeando por um shopping da cidade quando avistou o indivíduo andando na direção oposta. Pondera que o rapaz a encarava e que acometida de um mal súbito, tudo o que a pobre paciente pode fazer foi olhar para a vitrine que encontrava-se do outro lado, sem antes tropeçar.

Em mais uma amostra de monguice aguda, a paciente, ao perceber que o objeto encontrava-se em uma das lojas, rapidamente se escondeu atrás de um manequim, na esperança que o mesmo não a avistasse.

Tratamento:

Nao há eficácia comprovada com nenhum tratamento disponível. Porém, os pacientes vêm apresentando melhora quando afrontados por seres acomentidos de atrevimento excessivo, uma vez que esses, não dando bola para as monguices agudas, agarram os portadores da síndrome. Especula-se que talvez uma boa surra resolva.

segunda-feira, outubro 18, 2004

Espectros

Olha para os lados como se procurasse algo. Os olhos viram lentamente, passam desapercebidos em meio à multidão. Você não estava ali, mas vejo você em todo lugar. Sua face está em todas as faces. Seu sorriso está em todos os lábios. Seus braços em todos os abraços. Seu suor em toda minha pele. Seu calor em todo meu corpo. Seu gosto na minha boca. Sinto você, mas sua presença é fantasiosa. Meu reino por um de seus beijos. Carência.

sexta-feira, outubro 15, 2004

Qualquer coisa de mistério

Minha indiferença ocupou-se de desvendar os porquês. Está meio aflita, meio sem saber o que pensar. Vai daqui, vai dali, procura, olha, mas não acha coisa nenhuma. Pensa nervosamente se o jogo virou. Jogo, mas que jogo? Aquele, poxa, do olha-não-olha, do vê-mas-finge-que-ignora, do vai-atrás-mas-não-quer-nada. Não, o jogo inexiste. Ou o jogo sempre esteve virado? Será? Pois bem, quem se estrepou dessa vez foi a pobre da indiferença. De tão angustiada virou a casaca e amigou-se, quem diria, com a dúvida. E que cruel essa tal. Fica instigando-a a não se acalmar, a ficar tilintando díssonos pensamentos, aqueles ordinários, aqueles que a tornam sonâmbula. Borboletas inversas habitam o meu estômago. Voam ao contrário, mas as náuseas são as mesmas. E as coisas pairam no ar, indicando que o medo está presente. Medo de que, ora? Medo do nada.

quarta-feira, outubro 13, 2004

Por um amor mais alcoólatra e inconseqüente

Tem que ser atraente. Tem que ser inteligente. E alto. Tem que gostar de ler, dos filmes do Tarantino e de cinema europeu, de beber, de rock'n'roll. Tem que usar all star e o sexo deve ser fantástico. Tem que se interessar pela questão palestina. Tem que morar em Curitiba. Tem que me acompanhar em palestras sobre Sociedade e o Medo sem se entediar. Deve gostar de viajar. E ser músico. Tem que me entender, mesmo quando eu não consigo.

Não pode ter ciúmes, nem ficar em cima do muro. Tem que gostar dos meus amigos e segurar a minha mão. Tenho que querê-lo e ele tem que me querer em retorno. Que não me faça esperar, que não me faça chorar. Que deixe a barba por fazer e fique longe de gel para cabelo. Que me aceite pelo o que eu sou e qu... (mão na consciência)

Hum... Eu exijo que me aceite como eu sou, mas parece que não quero fazer o mesmo... Fico me escondendo atrás de todos estes requisitos na esperança que passe desapercebido o meu medo de acabar sozinha. Afinal, não há ninguém que seja capaz de ser o que eu quero.

Portanto, não exigirei mais tanto do outro, esquecerei (quase) todos estes critérios. Esse padrão só gera angústia e minhas pílulas de soma* acabaram.. Aposto que assim serei mais feliz! Ao menos, é o que se espera...

* Soma: do Livro Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. "Podem proporcionar a si mesmos uma fuga da realidade sempre que o desejarem, e retornar a ela sem a menor dor de cabeça e nem sombras de mitologia".

segunda-feira, outubro 04, 2004

Aniquilação sentimental

Esqueça que eu existo. Vá embora. Nunca mais se aproxime. Tudo o que você era não passa de ilusão severa, que esmigalhou o ingênuo coração. A dor transformou-se em raiva. A raiva transformou-se em ódio. E o ódio, meu ordinário ninguém, virou a casaca e resolveu amigar-se com a indiferença. Provou, e resolveu que é mais doce optar pelo não-amor. Pelo não-sentimento. Você agora não passa de um não-qualquer. Você agora só receberá meus 'nãos', com uma única exceção: o foda-se.

sábado, outubro 02, 2004

Em uma sexta-feira dessas, em uma rua escura qualquer

Quase chorou sozinha. Quase chorou genuinamente sem motivo. Talvez tivesse chorado por não saber porque chorava. Sentiu-se tonta. Sem chão, sem ar. Encontava-se carente e melodramática. Sorriu, pois não se tratava de coração querbrado. Os remendo, embora pudessem parecer fracos aos olhos dos mais desatentos, ainda resistiam e se fortaleciam.

Agora, ainda sozinha, quis retirar tudo o que dissera 10 minutos antes, mas não poderia. Mas foda-se, quem se importaria? Tinha certeza de que ela não. Enquanto suspirava escutou, como se em um sussuro: "Falta pouco".

Percebeu que passara a residir, acanhada ainda, uma novidade em seu coração. Ainda era quase que pouco mais que um breve interesse. Porém a dúvida, irriquieta, intermitente, questionava se ele estaria lá. Infelizmente, teria que esperar.