sexta-feira, junho 24, 2005

Não, não, não OU Spoiled Rotten

Não, não, não. Não pode fazer isso, não. Só eu posso. Eu. Você não. E não interessa que já não se possa mais contar nos dedos as vezes que te fiz. Não interessa mesmo. Você não pode. Esta é pregorrativa minha. Exclusiva. Não sua, minha. Desfaça! E rapidinho. Agora mesmo. Neste instante. E não volte mais a fazer. E aprenda que só eu posso. Só eu. Eu.

terça-feira, junho 21, 2005

Solidão que nada

Sabia que aquela melação toda era a praxe do início apaixonado. Começou até a curtir os apelidos no diminutivo, as brincadeirinhas sem-graça, a vozinha de criança, as manhas, as chantagens, a linguagem retrógrada do tempo em que tudo o que se falava eram sílabas duplicadas. Momô, bibi, xaxá, fufu, mimi, naná, pipi, totó, e por aí ia. Fazia questão de repetir todo aquele interlóquio enquanto contava e ouvia como o dia tinha ido. Quando ficava finalmente sozinha, suspirava. Sentia um misto de alívio e angústia. Sabia que o costume era responsável por este último. Sabia que, inexoravelmente, algum dia, em qualquer lugar, em uma hora incerta, tudo iria acabar. E começar de novo.

terça-feira, junho 07, 2005

Rabiscos de um cenoura brutalmente apaixonado ...

Sonhava em ter braços maiores. A paixão difusa pela vida trazia o desejo de abraçar muitas coisas ao mesmo tempo. Assim, carregava sempre um descompasso gritante entre o desejado e o possuído. Nada bastava, nada satisfazia. Aquilo que parecia intensidade não passava de movimento frenético: fuga. E a fuga trazia consigo a confissão de esperança. Como esperou! Agora escreve sobre o descompasso e a fuga usando os verbos no passado. Vive o encontro com o absoluto no abraço mais singelo, abraço para o qual os seus braços foram feitos.

domingo, junho 05, 2005

Desviante

Não vou olhar. Desvio o meu olhar. Vou me enganar. Só mais um pouquinho. Só por mais um tempo. Depois eu paro. Afinal, que mal tem a irrealidade? Tão mais confortável. Mas depois eu paro. Paro sim. Eu consigo. Paro quando eu quero. Nossa. Já pareço uma viciada. Não, não. Já disse que já olho pra frente. Se bem que... quem sabe, se eu esperar só mais um tantinho as coisas não se resolvam? Vai que ele se endireita, nunca se sabe. O marido da vizinha da amiga da minha prima era assim, que nem ele. Hoje é um santo! As pessoas mudam. Mudam, sim! "E se não mudar?", dizem elas. Bem, acredito que seja melhor que uma cama vazia e fria. Ou que a companhia de 62 gatos. "Você acha outro". Afirmação padrão. Lugar-comum. Mas vocês não devem se preocupar comigo. Já disse que vou parar de olhar pro lado, que largo dele. Meu olhar já já não vai mais se desviar. Eu consigo ficar sozinha, consigo sim. Só mais um pouco e eu....