domingo, fevereiro 27, 2005

Em tempo, ao tempo

Telefone. Nada. Distrai-se, mas já confere se por acaso não escutou o sinal de mensagem em seu celular. Bate o pé. Vai fazer hidratação no cabelo. Não aguenta. Desgraçado, filho da mãe. Quem sabe e-mail? Filme desinteressante na televisão. Finge que presta atenção. Frio na barriga, enjôo. Dorme. Sonha. Não estaria ele online? Vê, pela quinta vez em menos de um minuto, os ponteiros do relógio. Igual. Espera, outra vez. Ops, ele logo ali. Arrepende-se por não ter colocado outra roupa. Oi, olá. Tudo bem, tudo e você. Tenho que ir, como quiser. Merda! Chocolate. Estepe. Outro filme, dessa vez ligeramente menos desinteressante. Pode-se até dizer que prestou atenção. Ainda nada de e-mails ou mensagens. Come, afinal, se gorda, pelo menos ele terá algum motivo pra não ligar. Desiste. Show. Livro. Cinema. Bar. Quando vê, a espera se torna cada vez menos dolorida. Até que não há mais pelo que esperar.

Boa nova é a insistência dos segundos e minutos em passar, assim as horas e dias também. De repente outra semana. Sim, o velho chavão o-tempo-cura-tudo. Cura mesmo. Mas quem vê graça nisso? Há que se reconhecer uma certa tristeza neste fato, aquilo que enfraquecia os joelhos, hoje não passa de mera lembrança. Não causa mais dor, apenas uma ligeira estranheza. A angústia se agarra na esperança, no romance, e assim se vão todos. Nada mais a preencher o que quer que seja.

Só resta um brinde ao tempo, nosso triste salvador.

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