terça-feira, abril 26, 2005

Longe Demais: "Closer."

Duvido que vocês todas saibam da história do Leoni. Maldito Google, dei a dica, lá vão elas pesquisar. Sejam preguiçosas e leiam por aqui mesmo.
Leoni era marido (amancebado) da Paula Toller. Junto com outros, fundaram o Kid Abelha e Os Abóboras Selvagens na virada de 1982 para 83. Áureos tempos do Circo Voador, no Rio. O conjunto fez sucesso, está até hoje na estrada. Contudo, teve seu ápice ao redor do Rock in Rio de 85. A expectativa era grande, a banda e os integrantes novos, iriam tocar antes de feras consagradas e de um público enorme e exigente. Contudo, aquelas baladas bobinhas, juvenis, temperadas com a boa presença de palco da trupe, deram conta do recado. O show foi um sucesso. Não estou falando das últimas músicas do conjunto (todas absolutamente descartáveis), mas de clássicos de minha geração como "Por que não eu?"; "Alice (não escreva aquela carta)"; "Fixação"; "Como eu quero", dentre outras. O que todas estas músicas têm em comum? Leoni! Leoni é o cara!
No meio de músicas de protesto do pessoal do Planalto Central (Que País é Este? ; Até Quando Esperar; O Concreto Já Rachou), da viajante Geração Dourada do Rio (Garota Dourada; Adão e Eva no Paraíso), o Kid Abelha se destacava por músicas românticas e pegajosas. Mal comparando, tipo um Roxette. Só que melhor que o Roxette. As letras do Leoni vão direto no coração, se você estiver na fossa (ou TPM...) não tem Prozac que te quebre o galho. Leoni sempre questionava, na voz inquisitória de Paula Toller, por que o amor nunca funcionava com ele.

"Eu tenho o gesto exato, sei como devo andar
Aprendi nos filmes pra um dia usar
Um certo ar cruel de quem sabe o que quer
Tenho tudo planejado pra te impressionar

Luz de fim de tarde, meu rosto em contra-luz
Não posso compreender, não faz nenhum efeito
A minha aparição será que errei na mão
As coisas são mais fáceis na televisão

Ainda encontro a fórmula do amor... "

Afundado ainda mais em mágoas e questionamentos, ele extrapola:

"Quando ela cai no sofá, so far away
Vinho à bessa na cabeça, eu que sei
Quando ela insiste em beijar seu travesseiro eu me viro doavesso
Eu vou dizer aquelas coisas, mas na hora esqueço
Por que não eu ?
Por que não eu ?"

De fato, as mulheres pensam diferente dos homens. Leoni percebe isto e descreve de maneira sublime:

"Diz pra ficar muda faz cara de mistério
Tira essa bermuda que eu quero você sério
Tramas de sucesso mundo particular
Solos de guitarra não vão me conquistar

Hum! Eu quero você como eu quero...

O que você precisa é de um retoque total
Vou transformar o seu rascunho em arte final
Agora não tem jeito "cê" tá numa cilada
Cada um por si você por mim e mais nada"

Pronto Leoni, agora que ela te deu retoque total, qual o seu problema?

"Tantos sonhos morrem em poucas palavras.
Um bilhete curto... já não há nada.
Alice não se esqueça do nosso amor.
Será que eu tenho sempre que te lembrar.
Todo dia, toda hora?
Eu te imploro por favor!

Alice não me escreva aquela carta... de amor, oh, oh, oh
Alice não me escreva aquela carta... "

E Leoni recebeu a carta. Paula Toller ouviu os apelos de Hebert Viana em "Vamos fugir". Daí Leoni virou mito. Cantou todas as inseguranças e medos de nós, rapazes adolescentes, e viveu o maior de todos: o indelével pé na bunda. Virou herói. Herói da Resistência:

" Não vem agora com essas insinuações
Dos seus defeitos ou de algum medo normal
Será que você não é nada que eu penso?
Também se não for não me faz mal
Não me faz mal não
Noite e dia se completam no nosso amor e ódio eterno
Eu te imagino
Eu te conserto
Eu faço a cena que eu quiser
Eu tiro a roupa pra você
Minha maior ficção de amor
E eu te recriei só pro meu prazer
Só pro meu prazer..."

No fundo, todos nós procuramos o grande amor. Vez por outra, tropeçamos com ele pela vida. De tanto penar, nós, almas surradas e calejadas, custamos aceitar porque alguém nos estende a mão para uma mísera felicidade. Daí vem a pergunta feita por Jude Law em Closer: "Por que eu?".
Leoni é o cara.

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