sábado, setembro 12, 2009

A canarinha

No fundo, bem lá no fundinho do seu coração, você diz que gosta de futebol só para parecer mais atraente para o sexo oposto. Ou então porque é louca por jogador de futebol (vai dizer que em 2006 não prestou atenção concentrada, em momento algum, nas pernas - e tudo o mais - do Alberto Gilardino?). Se mesmo assim você nega algum desses fatos, comece a considerar a possibilidade de que você joga no time errado. É inegável que os campeonatos regionais não são lá interessantes, ainda mais aqueles fora do eixo Rio-São Paulo. Os campeonatos nacionais, então, mais enrolados impossível. E tem a Copa do Mundo. Ah, a Copa. É quando você sai com aquela camisa da seleção (baby look, claro), coloca fivelinha verde-amarelo nos cabelos e até pinta as unhas de azul e branco. É nesta época que muitas de nós começamos a namorar. Você e suas amigas chegam naquele barzinho que transmitirá o jogo pelo telão, com direito a muita cerveja e diversos petiscos, arrumam uma mesa ao lado daquela recheada de gatinhos. Uma tática infalível, muito mais eficaz que a fantasia verde-amarelo-azul-e-branco, é saber quando e o quê falar sobre o jogo. Não existe homem que não fique doido por uma mulher que saiba do que se trata um impedimento. Que discuta com propriedade sobre a tática 4x4x2 em formato losango. Que identifique a formação de triângulos defensivos, tão característicos da marcação por zona. Que perceba quando o ataque deve ser feito em leque e a defesa em funil. Pois bem, você analisa o meio-de-campo e se coloca estrategicamente ao lado do zagueiro para evitar a marcação indesejada. Você identifica seu objetivo e vai atacando pelos flancos. Por fim, quando você passa bem atrás daquele fofinho lindo irresistível, o lance imperdível está passando na telinha. Ele está ali à sua frente, apreensivo, sem piscar os olhos. Você caminha graciosamente, chega ao lado dele e diz "Se agora já é emocionante, imagine em 1863, quando o sistema tático era 1x1x8... não entendo como eles conseguiam marcar impedimento naquela época!". Pronto. Ele (e você) perderam o gol. Todo mundo à volta pulou, comemorou, e vocês ali, um olhando para o outro. Você com um sorriso maroto. Ele, com a respiração presa e uma expressão de completo espanto. "Estou vendo que torcemos para o mesmo time", você fala para quebrar o gelo e aponta para a canarinha que ele veste, igualzinha à sua (exceto pelo fato de que a sua é baby look). Você dá uma piscada, mais um sorriso e vai para a sua mesa. Ele continua ali parado. O jogo acaba e o Brasil vence. O garçom se aproxima de você, lhe entrega um bilhetinho: "Será que a minha camisa e a sua podem torcer juntas no próximo jogo?". Você dá risada... é gooooooooooool! Depois que a Copa passar (e outras Copas virão), uma certeza: a sua canarinha vai continuar sendo jogada ao chão, em frente à cama, ao lado da dele.

3 comentários:

Rafael Ginane Bezerra disse...

Minha nossa!

Sempre quis que minha namorada fizesse e/ou escrevesse algo assim. Cebola L., você é definitivamente o tempero que faltava no meu refogado! No mundo sentimental já tenho meu time, mas agora estou disposto a trocar de camisa. O que você acha?

Beijos.

Anônimo disse...

MELDELS.
que cantada!
ótimo :*

Clara disse...

A tática de fingir que conhece algo sobre futebol - mesmo achando isso um saco! - é de fato infalíveeel!
Adorei o post!