terça-feira, maio 05, 2009

Cinderela, adolescência anos 90 e a anatomia da tristeza

Anda chorando em segredo. Por fora sua aparência engana, sustenta-se firme e com ar indiferente. Por dentro desmorona. Sente uma angústia que vai do estômago em direção à garganta, que derrete as células com um gás ácido e insalubre. Deseja gritar. Não quer enxergar aquilo que está a sua volta. Cria teorias em sua mente sobre a fonte de sua tristeza angustiante e passional. Tem a sensação clara de que o amor lhe escapa entre os dedos, que os dias parecem não querer continuar para sempre ensolarados. Quer encontrar a razão desse desespero. Busca-a fora de si. Deve haver outra. Ou outras. Serão mais bonitas? Mais agradáveis? Sente ira e tristeza. Profunda tristeza. Um buraco que carrega desde a sua tenra infância. Uma ferida que parece não querer cicatrizar. Uma dor que a persegue, que afasta seus sonhos e apodrece seus ideais. Sua respiração é quase inexistente. Tem um nó na garganta. Sente dores no baixo ventre. A umidade lhe magoa. O frio piora suas sensações. Agora já entende algumas coisas que antes lhe eram obscuras. Vem de uma geração que precisou recuperar a melancolia para ter a certeza de que está vivendo alguma coisa que pode se chamar de autêntica. Mas esse final sorumbático não é o que almeja. Longe disso. Essa atitude taciturna esconde um romantismo sem precedentes. Um romantismo de doer os ossos. Crê piamente que o amor é a origem de toda a felicidade. E perdida na busca de si mesmo, esconde-se no mito que mais deixou marcas em sua alma: o da gata borralheira. Em seu silêncio sofrido, do alto de sua torre, espera ansiosamente que seu príncipe encantado vá resgatá-la das garras de uma bruxa malvada.

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