quinta-feira, setembro 02, 2004

R.I.P.

Não lidava bem com ritos de passagem. Chorava copiosamente. Não que gostasse de coisas estáticas, apreciava transformações e até as buscava, porém, quando estas chegavam, sentia tamanha combinação de sentimentos, que, irresignada, observava tais sentimentos lhe saírem pelos olhos.

Certa vez, após receber uma flor de um novo amor, sentiu-se eufórica. Estava ainda ligada a um antigo amor, é verdade, mas deliciou-se com a felicidade proporcionada pela novidade. Para seu pavor, a esta fase sucedeu-se o choro. Chorou feito criança. E irritou-se por não saber o porquê daquelas lágrimas. Mentiu. Fingiu na hora rir. Tentou explicar. Não conseguiu. Desesperou-se. Mas esperou. E finalmente entendeu.
Percebeu que a flor marcara o fim de um processo que se iniciara racionalmente meses antes, e este era o motivo do choro, não o amor enferrujado, como temia. Lembrou-se que fora criticada por tomar decisões racionais, esperando que isso fosse resolver. Sorriu ao lembrar de sua inocência teimosa à época ao acreditar que funcionaria. Mas aprendeu a lição, e por fim sentiu-se pronta. E foi.

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