domingo, março 27, 2005

As mãos

Encontravam-se os dois ali, deitados, nus, de mãos dadas. Despertou, após um breve instante de inconsciência, para perceber que já não mais sentia a mão dele na sua. Não que ele tivesse ido embora, estava ali, onde esteve o tempo todo, com sua mão na dela. A sensação havia se tornado tão confortável, familiar, que era como se a mão dele fosse parte da sua. Sorriu e, como que comprovar para si mesma a sua certeza, espreguiçou os dedos, o que perturbou o sono da pessoa com a mão na sua. Alguém, ao vislumbrar tal cena, de certo diria "Quanta afinidade!", ao passo que ela de pronto responderia "Que nada". Agora não tinha mais certeza, a não ser que sua mão estava coberta por outra. - Que coisa! Nunca sabia ao certo, sempre andava sobre ovos. Não podia se recordar de uma única relação em que a natureza desta estivesse clara. "Tá bem, tá bem, uma ou outra ainda vai". Estava angustiada. Não sabia se fazia, queria ou poderia reverter o quadro, só pra não variar um pouco. Perguntava-se se um dia saberia.

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