quinta-feira, março 24, 2005

Da dedicatória que não foi escrita

É desconhecida posto que separada, isolada. Solitária, está para os olhos como representação do inatingível. Ilhota? Talvez. Mas o isolamento que ostenta é apenas aquele que reflete. Guarda o canto das sereias, que sonhamos. Guarda o calvário de Ulisses, que tememos. É distante o suficiente para abrigar tudo o que sonhamos e tememos. A Ilha Desconhecida.
Sobre o seu conteúdo parece ser impossível projetar uma forma. Repousa no horizonte, intimida e incita. Cobra uma viagem que oferece – sem garantias – a plenitude, impõe o risco e nos obriga a tratar com descaso o que até então foi fatalidade. O seu acesso dispõe de caminhos variados. Todos eles impõem escolhas e ignoram o acaso.
A sua procura já foi palco para as viagens mais fascinantes. Navegadores que, deixando o solo conhecido e seguro para trás, fizeram suas velas ao mar. Todos salgaram as águas com suas lágrimas. Todos transformaram o sonho em caminho, o caminho em vida e o simples existir em desejado eternizar.
Conheço pouco a respeito dos mares ou da arte da navegação. Sobre a Ilha Desconhecida, sei apenas aquilo que o meu desejo permite. Ainda assim, bati à porta de um rei e pedi uma embarcação. Sincero e firme, o meu desejo sustentou o pedido. A embarcação foi concedida. Comecei os preparativos para a viagem. Eis que ela se inicia. Sinto o calor de um sol opressivo e a brisa refrescante. Contemplo a escuridão da noite e a luz orientadora das estrelas. Ao meu lado, tenho a cumplicidade e a reciprocidade da pessoa que desejou a mesma viagem. Com ela, o caminho é constante aprendizado e a vida é pura dádiva.

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