terça-feira, março 22, 2005

Sobre Liberdade e Libertinagem.

Ziraldo é um famoso cartunista brasileiro. Ícone de uma geração, catequizada pelo Pasquim, entre uma truculência e outra dos generais de plantão da ditadura. De tanto apanhar do regime ceifador da liberdade, Ziraldo parou de falar de política e passou a falar de sexo. Ficou célebre uma entrevista sua, à revista Playboy em 1980, quando declarou que nunca, nunquinha, havia broxado. Um quarto de século depois, mais coroa ainda, ele mantém a afirmativa. Um fenômeno. Tal declaração ainda hoje frequenta as rodas de boteco dos amigos. Quando alguém conta uma vantagem muito grande, superfaturando os dados da colheita da noite anterior, recebe logo os apupos: "Vai lá, grande Ziraldo!!" Relendo a entrevista muito tempo depois (mulheres, era a edição que trazia a musa Denise Dumont, vale a pena guardar até hoje), há uma série de declarações profundas, que passaram despercebidas injustamente. A que mais me toca, ainda hoje, é a seguinte: "As mulheres estão saindo para o revide, na base do 'vou te comer também'. Pô, se tudo mundo partir pra base do simplesmente dar e comer, vai ser uma merda, onde fica o amor no meio disso tudo?"
Perspectiva histórica: era o verão de 1980. Topless. Geração Dourada no Rio. TV Mulher. Marta Suplicy. Simone e Ísis de Oliveira. Desbunde generalizado. Finalmente, aqui no Brasil, ecoavam os bons ventos da liberação sexual. Mulher, agora, não simplesmente dava, mas opinava e, porque não dizer, estava começando a comer também. Como anarquista e humanista, acho isso o máximo. Sem querer fazer média. Mas o grande Ziraldo, de pé (sem trocadilho), ainda braveja: "Porra, e o amor?"
Em todas as revoluções avançamos. Mas é um jogo, basicamente, de ganhos e perdas. Mulheres, vocês ganharam em uma década coisa que milênios não conseguiram lhes dar. Faltam coisas ainda. Mas o salto foi enorme. Nós, homens, ganhamos também. Relações mais igualitárias, onde o ônus financeiro e, principalmente, emocional, passa a ser um fardo dividido em duas costas. Mas perdemos algo. Hoje em dia, são vários os receios no início de uma relação. É um verdadeiro vale tudo emocional. Toma lá, dá cá. As pessoas, de ambos os lados, não mais se entregam. Dão a mão, mas já entram de sola na canela. Dão um beijo, mas à la Sharon Stone, com um picador de gelo na mão cerrada nas costas.
Utopia. Já pensou um mundo com todas estas conquistas, mas com espíritos desarmados? Já pensou que máximo, ser escolhido por uma mulher, ser conquistado e envolvido por ela, "sem medo de ser feliz"? Quem sabe não está na hora de passarmos para a próxima fase desta revolução? A do amor baseado na autoconfiança e confiança mútua?
Tenho vivido os últimos 3 meses e meio desta maneira. Não tenho do que me queixar.
Beijos a todas.

PS: Tore, na verdade, é _Ne_. Vou assinar com o nickname carinhosamente dado pela irmã de uma das donas deste espaço.

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